terça-feira, março 12

É Florida...

Comadre Holandesa, ninguém aqui quer briga não, a gente só gosta dum bom cunversê, eu os comentariastas... Foi-se o tempo dos trolls, esses agora estão ocupados demais no facebook. Além do mais, como é que eu vou brigar com você, se você é minha única chance de ter as cinzas jogadas no EPCOT no dia que eu morrer? Porque você falou e disse, bom mesmo só em Orlando.

A crítica, o momento pau-da-vida, não quer dizer que eu estou infeliz. Estou pê da vida com essa pagação desvairada de impostos e seguros; com o mau uso do dinheiro; com essa gente oportunista que estraga o que podia funcionar tão bem. Mas mesmo que eu estivesse "infeliz", tentaria mudar a situação aqui antes de pensar em voltar; eu já penso o contrário de você, não acho que se está ruim no trabalho a gente troca de trabalho, primeiro a gente tenta melhorar onde está, não é mesmo?

Muita gente acha que quem não tem filhos está "livre leve e solto" na vida, mas eu e meu marido somos um núcleo familiar como qualquer outro, eu tenho minha carreira, ele a dele, temos uma "pequena" hipoteca pra pagar, fizemos nossa vida aqui, não é só mandar tudo pra pontequepartiu e ir se aventurar em outro lugar do mundo. Fiz isso uma vez, antes de virar os 30 - jovem, e não encararia novamente nem que a tussa vaca. A não ser que fosse pra Orlando, claro :)

E já que a gente tá falando em carreira, tcheu contar pro povo aqui o novo capítulo da novela Old Fart.

E chegou o dia da avaliação intermediária do dito. Eu preparei toda a documentação, sabendo que ele ía encrencar com alguns dos pontos negativos me preparei pra respondê-los, acho que fui bem justa em atribuir também pontos positivos, enfim, estava otimista. A tal avaliação começa com "disciplina", que é justamente a pior parte do cara. Falei então dos sumiços. Falei da história da moça ( get down on your fucking knee ). Falei da arriação de calças no departamento. Disse que é inaceitável, que não é normal, que ele está perdendo o controle. Achei que ele fosse ficar bravo, mas ele deu uma risadinha, e respondeu: "relaxa, Adriana - foi tudo no espírito de brincadeira, quando é que VOCÊ vai baixar suas calças no departamento? @$%!* Contei até 5, disse que a reunião estava encerrada, fui direto para a sala do meu diretor. Expliquei pacientemente o ocorrido; ele chamou o Old Fart imediatamente e o cara levou um comunicado oficial, uma multa de 200 euros e está em "probation", mais uma reclamação e ele está fora. A criatura não negou nenhuma das "aprontações"; mas disse que ele achava que o desempenho dele com o dinheiro que ele traz pra companhia fosse mais que suficiente para não ser influenciado por esse pequeno "problempje" ( probleminha ). O diretor foi firme e disse que um não tem a ver com o outro, mais uma lambança e adeus.

Isso foi na sexta. Hoje ele deveria ter ido pra França. A coisa pegando fogo no departamento, ele aproveitou um dia que eu estava fora da empresa pra aprovar a viagem com o diretor, que sempre confia que se o funcionário está solicitando uma viagem de negócios é porque essa é mesmo necessária e que as coisas estão razoavelmente OK no escritório. Cheguei e não podia dizer não e contrariar o diretor, pior ainda é que seria uma reunião de 2 horas no fornecedor e um pulinho a Paris pra visitar uma feira de plásticos, fiquei lívida, tudo atrasado, parado, empepinado e o belezura passeando em Paris, pediu até pra secretária ver o preço da diária de casal pra ele levar a esposa! Eis que amanhece um metro de neve no chão, o norte da Europa parada, OF liga do trânsito 10 da matina pra dizer que estava preso no trânsito, não ía hoje pra França, pra secretária mudar a reserva para amanhã. Perguntei se a reunião ía ser adiada, e ele disse que ele iria só para a feira. Eu então mandei cancelar a viagem, só pra feira, nessas circunstâncias ( lançaremos o novo caminhão, com a presença do Principe Willelm Alexander dia 3 de Abril ), ele não ía. Esse homem virou um bicho, disse que a viagem tinha sido aprovada pelo diretor, que ele não queria saber, ía. Eu liguei pro diretor, expliquei o acontecido, ele me deu razão, falou com o fulano ao telefone. Era 4 da tarde. Eu tinha que esperar uma apresentação dele, devia ficar pronta as 3, esperei até as 7, necas. O diretor ligou de novo, cadê a apresentação no meu BB, não tá pronta, cheque que o OF entendeu que não é pra ele ir pra França, nisso ouço o OF dizendo pro colega que amanhã estaria em business trip, expliquei de novo que estava tudo cancelado. Deixei meu e-mail pessoal pra ele mandar a apresentação, teremos que nos reunir às 7:30 da matina pra discutir a apresentação, são 11 da noite e necas. Não sei da apresentação, não sei se OF estará na empresa amanhã, não sei se ligará se dizendo doente - como ameaçou.

O negócio tá feio, muito feio. O cara tá fazendo a cama dele. Eu vou ser sincera, apesar de querer me ver livre desse despacho, tenho dó da família, ele é a única renda da casa, está completamente individado, o negócio ficaria muito feio. Mas ó, tá difícil de aguentar. Tá Florida...

domingo, março 10

Answers is all we need

Comentando os comentários do post anterior ( que frase feia, blé )...

Comadre Holandesa, você é minha comadre querida, e não se ofenda, mas não aceito, admito, ouço ou encontro qualquer resquício de pensamento racional no "não está feliz aqui, volte pro Brasil". Caracas, todo imigrante ouve essa frase cada vez que tenta exprimir a mínima crítica ao país que vive, mesmo que os nativos estejam sentando a lenha em tudo e todos. E porque não posso criticar? Não sou cidadã holandesa? Não voto? Não pago impostos? Não movimento a economia ( e muito! ) ?

Quando uma sociedade inteira se submete a dividir metade do seu salário com a coletividade, espera-se que todos tenham uma vida decente e razoavelmente confortável, então como não criticar um governo que faz uma geração de jovens mães se questionarem se vale mesmo a pena voltar ao trabalho depois do parto e entregar todo o seu salário em pagamento de creche? E pior, pelo menos no grupo social em que eu me encontro, metade dessas jovens mães estão escolhendo ficar em casa. Estamos voltando no tempo!!! Lugar de mulher é em casa criando filhos, lavando, passando, cozinhando...

E sinceramente? Financeiramente nós estaríamos melhor no Brasil. Meus antigos colegas de trabalho ou de faculdade estão ganhando bem, estão trabalhando em indústrias que se modernizam numa velocidade impressionante, suas carreiras se movimentam ultra rápido... A maioria das minhas amigas estão casadas e com filhos, e numa casa com duas rendas, os ajuizados estão investindo em imóveis, estão viajando, estão morando muito bem. Notei um certo preconceito no seu comentário sobre a classe média paulista estar contratando empregadas paraguaias, mas e no que isso é diferente da holandesada que contrata o pedreiro polonês enquanto os pedreiros holandeses estão passando fome?

E minhas duas megas viagens por ano? Bom, foram só no ano passado e estouraram nossa conta, e certamente não se repetirão, voltaremos a fazer a viagem de pobre em maio e a melhor em dezembro, mas elas só são possíveis porque EU NÃO PAGO CRECHE, senão estaria indo pros appartamenten em Mallorca, quiçá um stacaravan ou até camping! Aliás, sabe a viagem pra Florida que a gente tanto pesquisa, e tenta baixar os custos, e divide casa com irmão, e etc? Um amigo da família, assalariado como a esposa, depois de 6 anos indo anualmente pros EUA pra visitar a Disney e comprar as roupas da família, juntou 2 anos de bonus de participação dos lucros, uma graninha aqui e acolá, e comprou um condo em Davenport!

Mas é isso, meu ponto é que as últimas mexidas nos benefícios holandeses são uma merda, não é justo o povo que tem que pagar creche tão caro, enquanto isso a chinesa da Bosch ( que é holandesa da gema, brabantista de Breda ) está NOVAMENTE morando fora e recebendo auxílio desemprego ( dessa vez em Singapura ). E é nosso dever questionar o que os políticos decidem fazer com o NOSSO dinheiro. E protestar quando não estamos de acordo.

E Paca... o depressão entre aspas assim está porque eu acredito sim em depressão, trabalhei com um senhor cujo filho se suicidou na linha do trem em frente ao escritório dele, e aquele homem mal saía de casa, não comia, ficava olhando pro vazio, era apático... mas a senhora "deprimida" participa do clube das motocicletas vintage e todos os sábados sai para encontrar os amigos e dar o passeio semanal de moto, até debaixo de neve, faz um cursinho de cupcakes as terças, e aula de zumba 2 vezes por semana. Ela vai uma vez a cada três meses no médico, chora dizendo que o pai abusou psicológicamente dela, por isso ela não consegue cuidar dos filhos, que diga-se de passagem, foram os dois planejados e gerados por FIV ( se teve problema psicológico como nascimento do primeiro filho, pq um segundo? ). Essa "depressão" pra mim é preguiça.