segunda-feira, outubro 29

Empregadas "do lar"

No Facebook está rolando um post de um blogueiro paulista, reclamando dos imóveis brasileiros que tem o “quarto da empregada”, e achando ainda pior que o tal modelo esteja sendo aparentemente exportado pra outros países.

Agora pergunto: porque é que ultimamente virou modinha no Brasil criticar o hábito brasileiro de ter empregada doméstica? Com tanta coisa que precisa melhorar no país, será que não estamos perdendo tempo levantando bandeira errada? Porque é que se acha errado ou politicamente incorreto ter-se uma empregada doméstica? Que bonde brasileiro foi que eu perdi? Porque é que se critica tanto quem tenha empregada registrada, com boas condições de trabalho, com salário decente? Vi uma crítica burra à babá da apresentadora Adriana Lima e fiquei chocada com a hipocrisia do brasileiro!

Eu ainda morava no Brasil quando começaram as pressões para os empregadores registrarem as empregadas. Meu pai, que se péla de medo “das autoridades”, mais que rápido registrou a Janilda. Ela teve a carteira registrada pela primeira vez pela gente! Detalhe: já estava beirando os 40, com 3 filhos. Achei tudo muito certo, minha mãe precisava de uma empregada, ofereceu o quanto podia pagar;  a Janilda não tinha qualificação outra, precisava trabalhar, o salário era aceitável, ela firmou conosco um contrato de trabalho. Ela tinha horário fixo, folgas, férias e décimo terceiro. É errado? E se ela tivesse limpando escritório, será que todo mundo seria menos negativo e crítico?

Se eu tiver que levantar alguma bandeira pra ajudar as empregadas domésticas, levanto então a bandeira de que o governo tem que prover ensino básico e ensino profissionalizante para quem não queira passar anos num banco de universidade ( não vou nem aqui tocar no assunto de que tem que dar condições de cursar uma universidade pros que queiram ). Talvez a Janilda tivesse sido uma ótima manicure, ou uma higienista bucal ( a mulher que suga cuspe do lado do dentista ), ou uma jardineira… talvez com algum treino, dentro das possibilidades e aptidões dela, ela tivesse escolhido outra profissão, mas paupérrima, sem nem ter terminado a 4a. série do ensino básico, quais eram as opções dela? Diria eu que, aleluia que está aí a classe média pra ajudar, já que o governo falhou.

Eu não lembro da minha infância sem a Lia. Eu era ainda bebê quando a empregada da vizinha veio perguntar se minha mãe não precisava “de alguém pra ajudar”. A família ( adivinhem? Paupérrima ) não podia sustentar os 11 filhos, assim, quando íam fazendo 14, 15 anos, os pais esperavam que eles fossem “se arranjando”, eram de Assis, queriam que a irmã arrumasse algo pra menor “na Capital”. O arranjo era simples, minha mãe dava um salário, ela morava com a gente. De noite, ela ía pra escola – por exigência do meu pai, os pais dela não queriam. Quando eu era maiorzinha eu lembrava de ir chamar a Lia pra brincar e minha mãe dizer: deixa ela terminar a lição dela. Mais tarde, sentávamos juntas na mesa da cozinha pra fazer lição, mas a Lia já estava “no colegial”. Nossa primeira casa não tinha quarto de empregada, então eu e meu irmão dormíamos juntos e a Lia tinha o terceiro quarto da casa. Ela almoçava e jantava na mesa com a gente, se passeávamos, a Lia passeava. Tínhamos casa na praia, e a Lia sempre ía com a gente, e quando a minha prima da idade da Lia – ía, as duas íam paquerar os moçoilos juntas no parquinho da cidade. Mais tarde veio o Sérgio, o namorado da Lia, ele namorava a Lia no quintal e assistia TV na sala quando o tempo estava frio ou chuvoso.

A Lia terminou o colegial e foi trabalhar numa fábrica de roupas, chorei muito de saudades dela. Ela vinha nos visitar, com o passar do tempo menos e menos, até que perdemos contato.

Tenho certeza que se alguém perguntar hoje pra Lia, e pra tantas outras Lias, o que elas pensam hoje da situação toda, tenho certeza que claro, elas prefeririam ter nascido num país onde qualquer criança tem direito à escola, e os pais recebam ajuda financeira para que os filhos fiquem na escola, ou que os pais nem precisem de ajuda financeira porque tem uma renda famíliar decente; mas que dada a situação, não se sentem menores ou infelizes por terem sido ( ou ainda serem ) empregadas domésticas.

sexta-feira, outubro 26

Shitty airways

Ia falar sobre isso no post de Lisboa, mas acabaram de reservar um vôo aqui pra mim, e deixe-me dividir com vocês nossa última experiência com uma shitty airways.

É muito lindo abrir seu e-mail e ver as promoções das shitty airways ( ou, o eufemismo “low cost airways” ), de repente um mundo de possibilidades se abre com um orçamento ultra pagável. Não me entendam mal, se eu tivesse que escolher entre não viajar e viajar de shitty airways, eu escolheria engolir os sapos e encarar a shitty, mas tendo condições de pagar uns tostões a mais, juro pra você, shitty nunca mais.

Começa que a shitty só é barata se você não levar bagagem, não marcar assento, não comprar embarque prioritário ( na Ryan-meleca-air ). Se você adicionar uma malinha de 15 quilos, marcar assentos, seu preço vai beirar um preço promocional de uma companhia aérea normal. Planejando com antecedência, dá pra pegar uns precinhos ótimos com a KLM. A vantagem das shitty pra mim é somente o aeroporto: podemos voar de Eindhoven, uma corridinha de taxi de 15 minutos e 20 euros de casa.

O primeiro problema das shitty é o povo que viaja nessas tarifas mais baixas. Metade do avião é gente como a gente, que está acostumado a viajar e está tentando economizar uns tostões, mas a outra metade é de gente que raramente entra num avião, que viaja de ônibus ou acampa, não entende as limitações daquela passagem baratésima. Você entra na fila pra deixar sua bagagem e tem sempre gente na sua frente que nem se deu ao trabalho de ler bem as limitações do ticket e ficam ali brigando porque achavam que a mala podia ser despachada sem custo adicional, ou então as vááááárias peruas que não entendem que um volume de bagagem de mão é um volume, e não a malinha de rodinha explodindo e mais uma bolsa LV falsiê gigantesca lotada no limite. Sem falar que parece que tem um código secreto e o povo da bagunça se concentra toda ao fundo do avião ( manja aquele povo que vai no fundo do busão fazendo um pagodinho “do bom”? ), se você não sabe e se senta por lá, vai comer o pão que o diabo amassou com a bunda.

Aliás, e o avião? Que aperto! Nos EUA, antes de entrar na fila de uma montanha russa eles colocam um assento do lado de fora pro povo medir se cabe: deveriam começar a fazer isso com avião! A shitty airways pra Lisboa foi a Transavia, e juro que para caber com algum conforto naquele assento, só quem usa no máximo numero 44. Eu uso 46 e coube roubando um pouquinho o espaço do marido, quem usar acima do 46 já aviso: não cabe! E se você usar a opção de reservar os assentos com espaço extra pras pernas ( opção só na Shitty Transavia ) o negócio é pior, pois os descanços de braço são estáticos e comem 4 cm do já minusculo espaço pra sua bunda. Quanto a altura, o marido tem 1.80mt e coube com os joelhos encostados no banco da frente, mais que isso, só mesmo na fileira com extra espaço pras pernas. Resumindo: se você for alto e gordo, tomara que não seja pobre, senão lascou.

Já havíamos começado nosso boicote à Ryan-meleca-air desde o ano passado, quando o “aeromoço” portuga quis enfiar a mochila do meu marido debaixo do banco da frente dele pra dar lugar a bolsa gigantesca da patricinha peituda que chegou atrasadésima ao embarque, isso depois de termos pago embarque prioritário justamente pra garantir bons lugares e espaço pra mala de mão. E viajamos perto dos pagodeiros do fundão. Never more. Agora decidimos esquecer as shitty air por completo, o aperto da Transavia não compensa a economia de poucos tostões. Teríamos gasto uns 200 euros a mais pra ir de KLM até Lisboa, da próxima vez é o que faremos. Estou pesquisando agora um findizinho em Roma, apesar de ter Ryan-meleca-air de Eindhoven, vou de KLM lá de Amsterdam.

Ah, e só pra não ser tentada, já saí da mala direta de todas as shitty. Nem de graça, mané!

quarta-feira, outubro 24

Jogos Vorazes

Quem é vivo sempre aparece.

Fui pra Portugal ( e não perdi o local ), Lisboa é tudo de bom! Juro que vou postar umas foteeenhas aqui. Recebi o e-mail de uma leitora dizendo que eu sempre viajo mas não dou mais dicas de viagem, pois então, voltarei a dar.

O negócio aqui tá periclitante, são apenas mais 6 semanas antes das férias na Tailândia – tudo explodindo no trabalho.

Mas deixa eu falar de outra coisa. Quem aqui lê o blog da Holandesa ( link aí do lado ), está acompanhando a situação do marido dela a empresa. O meu começou a passar pela mesma situação. Tcheu explicar. É aliás também o motivo de eu não conseguir convencer a gerência a mandar o Old Fart embora.

Se uma empresa quer mandar um funcionário embora, tem que pagar um salário mensal para cada ano que esse funcionário ficou na empresa. Isso em si já é um drama, imaginem que em 2009 eu tive fornecedores aqui pedindo empréstimo para mandar gente embora – não conseguiam mais pagar a folha mas também não tinham grana pra pagar a recisão de tantas pessoas ao mesmo tempo. E tudo é bem controladinho pelo sindicato, a empresa tem que mostrar que está no vermelho, precisa cortar postos de trabalho, e não pode voltar a contratar gente por um periodo X. O sindicato, em parceria com o governo tem tanta força, que criam leis mirabolantes para proteger o funcionário que na verdade não é proteger o funcionário coisíssima nenhuma, é só uma garantia que o empregador não vá colocar o funcionário na rua e esse vai ter que receber o salário desemprego.

Para mandar o funcionário embora e contratar outro no lugar, você tem que provar, muito explicitamente, que o funcionário não está fazendo seu trabalho direito pelo menos por 3 periodos. Para funcionário indireto ( de escritório ), um periodo é 1 ano. Tudo é feito com base na sua avaliação anual, o funcionário que tiver 3 vezes “insuficiente”, pode ser mandado embora por justa causa. O problema é que dar esse insuficiente 3 vezes consecutivas ( ou no espaço de 5 anos ) é praticamente impossível. O funcionário que tem o insuficiente é avaliado pelo RH, vai fazer cursinho, tem ajuda especializada com revisão a cada 3 meses, só se for mesmo um banana de pijama pra não melhorar e receber pelo menos um suficiente no próximo ano. É a categoria onde se encaixa o Old Fart. Ele teve uma avaliação “goed” ( bom ) e uma voldoende ( suficiente ). Com essa “suficiente” o RH já entrou em ação, já está mandando a gente escolher um treinamento pra ele, etc e tals.

A divisão da Philips onde o marido trabalhava foi vendida para investidores. Ter a empresa comprada por um fundo de investidores é a pior praga pro funcionário, benefícios são cortados, a pressão por lucro é incessante, a preocupação com a função social da empresa é zero. Nesses 4 anos que a empresa foi vendida, vários benefícios foram cortados, criaram um tal de “salário bonus” que ainda está sendo julgado se é legal ou não ( 20% do seu salário é atrelado à obrigação de trabalhar 200 horas por mês, se você fica doente um dia, perde o bônus ). O que salva é que essa empresa do marido na verdade é um pool de engenheiros de software que são “alocados” em outras empresas, então se você é alocado numa empresa legal, pelo menos o ambiente de trabalho é bom.

Por tudo o que eu falei acima, quando a empresa tem que reduzir pessoal e tem tempo pra isso, começa a fazer joguinhos pra “forçar” o funcionário a se mandar por conta própria. O truque mais antigo do livrinho é colocar o funcionário numa função que ele não gosta, fizeram aqui na empresa com uma funcionária que queria trabalhar part-time ( ela deu uma sacaneada de leve com a empresa, santinha não era ). No caso do marido, é mandar fazer cursinhos totalmente fora da linha de trabalho dele, ficar fazendo joguinho psicológico de “você precisa melhorar o desempenho”. O marido hoje decidiu ir ao advogado do sindicato: o cliente onde ele trabalha fez duas avaliações dele com “muito bom”, ele tem toda a papelada assinada, só que a empresa oficial dele, pela segunda vez, na avaliação anual queria colocar um suficiente, e dessa vez ele se recusou a assinar.

Em tempos bicudos de crise, vai ser difícil achar outro emprego, mas a situação está deixando o marido um caco. Vamos ver o que o advogado fala, mas tô cheirando problema se formando no horizonte.

A gente acha que essas leis protecionistas são bom pra nós, os funcionários, mas sei lá se concordo. É bom pensar que a empresa não pode me mandar embora sem mais nem menos, mas por outro lado, cria-se esses joguinhos psicológicos que são o ó. Vamos ver no que vai dar essa história.

quinta-feira, outubro 4

Quero ir comprar batatinhas

Meu primeiro emprego “com carteira registrada” foi na GM, antes disso tinha sido estagiária. Entrar na GM como estagiária foi dificílimo, e ser efetivada – especiamente num ano em que a empresa teve 2 programas de demissão voluntária – foi quase um milagre. Eu tinha um orgulho enorme de trabalhar na empresa, e amava os produtos da empresa. Até hoje, quando entro num carro 100% brasileiro, se não for um GM eu penso – ah, o GM é melhor.

Quem acompanha esse blog a tempos sabe o quão difícil foi encontrar o primeiro emprego. Foi um milagre tão grande quanto entrar na GM. E finalmente mudar pro segundo, perto de casa, e o terceiro e atual, no qual eu fui promovida, e agora “estou” gerente ( um antigo gerente sempre dizia que a pessoa “está” gerente, no dia seguinte pode não mais estar ).

Trabalho numa empresa que faz caminhões chamada DAF, a maioria aqui já sabia, mas voilá, aí está o nome. A empresa está agora abrindo uma planta no Brasil, em Ponta Grossa, é “filha” do grupo PACCAR, que nos EUA fazem os caminhões Peterbilt e Kenworth.

Meu emprego tem muitas coisas positivas: eu conheço automotiva, então é mais fácil; a empresa fica a 1,5 km da minha casa, eu demoro 6 minutos porta-a-porta, sem passar por um semáforo sequer; o salário é muito bom; meus colegas ( com exceção do Old Fart ) são muito legais, e eu gosto bastante do meu chefe direto. O diretorzão é meio louco e coloca uma pressão desumana sobre nós, mas eu gosto dele, ele é direto, é inteligente, tem várias idéias malucas mas “intriguing”.

E o que eu não gosto?

Os sistemas da empresa tem 30 anos, não há SAP em parte alguma, tudo é feito meio que a mão. Tem um carinha no departamento que faz uns databases em Access ( !!! ), de resto, é tudo via arquivinho excel. Nada se comunica com nada, você tem que fazer muito trabalho braçal, contratamos um “back-office” que nos ajuda, mas mesmo assim é infernal o tanto de listas que temos que preencher.

O meu cargo é um cargo novo, então certos “poderes” estão sendo transferidos aos poucos. Deles, o que mais me faz falta é o de poder formar o meu próprio time. Com tempo e paciência, nesses dois anos, eu fui adicionando gente muito boa ao meu time, mas não consigo me livrar do Old Fart. Meu diretor é meio mole, não quer comprar a briga com o RH, e no lado pessoal, ele gosta do cara, e sabe que o cara teria um problemaço financeiro a esposa não trabalha, ele tem 3 filhos adolescentes, tem mais de 50 anos e um  CV que mostra um pinga-pinga de empresa em empresa a cada 3 ou 4 anos ( agora eu entendo porque ); meu trabalho envolve justificar e amenizar escorregadas dos meus funcionários, mas as dele são tantas, e tão idiotas – que não deveriam ter acontecido to begin with e eu já não gosto dele, é difícil colocar o seu na reta por causa de um cara assim. E daí eu me sinto mal, porque eu sou paga pra tratar todos os meus funcionários da mesma forma.

Mas o mais importante, meu sonho profissional, é trabalhar numa empresa que produz algo com o qual eu me identifico mais. Uma das comadres passa o dia criando estratégias mirabolantes para produtinhos legais com Olaz ( Olay ), Maquiagens, sabãozinho em pó, batatinha frita e amendoinzinho, porque eu tenho que ficar discutindo o encapsulamento de um motor? E olha que eu sou especializada no interior do caminhão, bancos, painéis bonitinhos, cortinas, colchão, mas mesmo assim, é tudo de um caminhão.

Fico pensando, como seria acordar e ir pro escritório discutir as estratégias de compras de uma Ikea por exemplo? Ou da Sara Lee? Ou da Google – e poder levar meu cachorro ( que eu ía adotar ) pro trabalho? Minha empresa cortou 100% do budget pra viagens, e eu estou sentindo falta de fazer negócios com gente diferente, ver fábricas diferentes, tava no plano eu ir pra China e India, mas com esses cortes

Sempre quando penso nisso, me sinto culpada, como vários dos leitores já comentaram aqui, tanta gente está desempregada, do que eu estou reclamando? Sem falar na conveniência de trabalhar aqui do ladinho de casa.

Mesmo com uma certa dorzinha na consciência, ando olhando o mercado, e está terrível. Pouquíssimas vagas abertas, sem falar que quando o mercado está devagar assim, sempre sobra mão de obra e os empregadores SEMPRE preferem os holandeses, a não ser que a vaga seja muito especificamente direcionada para o mercado internacional.

Dizem que sonhar é preciso, então continuarei sonhando em trabalhar nessas empresas doidas como a Google, em ir trabalhar sorrindo de orelha a orelha.

quarta-feira, outubro 3

Conversando com a Chinesa

Na semana passada viajei pra uma feira em Hannover ( lindo centro histórico, não esperava! ) com o pessoal do escritório. No carro fomos eu, meu diretor ( o legal ) e a chinesa, carinhosamente aqui apelidada de SongaMonga.

É tanto absurdo que não dá pra acreditar.

Songa estava muito feliz pelo passamento de uma nova lei na China. Como ela é de Shangai, onde existia a lei do 1 filho, os pais só tiveram ela. Por essa nova lei, se ela se casar com um filho único, o casal pode ter 2 filhos! Nas cidades do interior, já havia uma “lei dos dois filhos”, que diz que qualquer casal que tenha uma menina primeiro, poderia ter outro filho. O que acontece muito é que casais que tiveram uma filha, tentam novamente e se o ultrassom mostra que é outra menina, abortam, e vão tentando até vir um menino. A chinesa disse que esse ano houve um “protesto público” quando autorizaram uma mulher a abortar um “feto” de 8 meses (!!!!). Ficamos, o chefe e eu, horrorizados, claro. Mas ela diz, a gente tem que entender esse povo das cidades rurais, não há sistema social na China, então é o filho que sustenta o pai na velhice, a filha se casa e vai para outra família (?) e é o filho homem que vai trabalhar a enxada e cuidar dos pais idosos.

Daí eu perguntei: mas, se os chineses podem abortar, porque tantas meninas jogadas na rua, em orfanatos? Ela disse que é um “outro” problema. Os homens mais ricos, que não tem filho homem com a esposa, acreditam que é a mulher que só “faz filhas” ( oi? Foi só eu que aprendi que é o homem que determina o sexo da criança? ), portanto tentam com uma amante ter um filho. Se nasce um filho homem, eles “compram” os documentos para registrar como filho deles. Mas como assim, compram documentos? Acontece que filhos de mãe solteiras não tem direito a certidão de nascimento, a identidade, a passaporte, a documento nenhum. E sendo indocumentado, não existem, portanto não vão a escolha, não são ninguém! Daí a mulher solteira que teve uma menina jogar o bebê na rua, e todo mundo ver e ninguém fazer nada. Nojento isso! Por outro lado fico pensando em quantas mulheres solteiras engravidam, querem ter seus bebês, mas não ousam, afinal – quem quer uma vida dessas pra própria filha?

Daí a conversa rolou para o tema “casamento”, e eu contei que no nosso grupo, o pessoal mais jovem não necessariamente casa, que aqui na Holanda não é necessário, que o fulano tem 2 filhos e nunca casou, que o ciclano não é casado e a namorada está grávida, que o beltrano também… Ela não se conformava. Mas, porque fazem isso? E os filhos, não vão ser discriminados, vão ter direito a escola, vão conseguir arrumar emprego quando adultos? Se o rapaz realmente ama a moça, porque faz ela passar por tudo isso?

Cheguei a conclusão que o Brasil, sempre colocado na mesma “cesta” que os chineses quando se fala em BRIC, pode ter muitos outros problemas, a violência, a corrupção, ensino publico deficiente, mas é mais humano, um bebê ser jogado na rua ainda nos choca, e ele não ficaria ali 5 segundos sem ser socorrido.

terça-feira, outubro 2

Está tudo na mente, a imagem de uma panelada de brigadeiro de colher também

O que a leitora não quer entender é que nesse conversê todo, só uma coisa é certa e todos hão de concordar, ser gordo é uma merda – não esquecendo que é também muito ruim pra saúde.

O gordo precisa aprender a diferenciar fome de gulodice, precisa aprender quando a fome está saciada. Seriously? E que gordo não sabe? Difícil perceber que aquele segundo pedaço de Sacher Tart foi pura gulodice, ou que naquela festinha, a terceira das 21 coxinhas que ele comeu já tinha saciado a fome dele. Tjonge Jonge.

Pô Adriana, mas gordo quer emagrecer “na moleza”. É que gordo é tudo safado mesmo, vocês não sabem? Querem tudo fácil, não tem força de vontade pra nada… Estou de saco cheio de ser tratada assim a vida inteira, de ir num médico com unha encravada e o cara nem olhar: é porque você precisa perder peso. De ouvir que é muito legal, muito fácil e ecológicamente correto fazer “reeducação alimentar”. Reeducar o que não foi educado? Minha mãe vem de uma família humilde, muitas vezes quis comer um pedaço a mais mas não tinha, ou algo diferente, mas não tinha, quando pôde, mantinha os armários recheados e um bolo gostoso sempre no forno. Meu irmão não comia pra não sujar os dentes, ele tinha horror – já eu, comia minha parte e a dele. Comecei a engordar aos 7, fiquei bolota aos 9, fui ao pediatra aos 10, a um endocrinologista aos 12, ele me colocou nas anfetaminas e só as deixei aos 27.

Pela  lógica, somos indivíduos com diferentes “upbringing”, com diferentes gostos alimentares e metabolismos, temos diferentes cotidianos, diferentes disponibilidades de tempo e dinheiro ( comer menos deveria ser mais barato, mas como é caro! ), como achar que uma só solução se aplica ao coletivo? Adriana tem que se reeducar, tem que comer saladinha picada a mão com limãozinho espremido três vezes apenas pra não contaminar com o óleo da casca do limão; tem que comer iogurte feito em casa, mas olha só, pode até comer manteiga!!!

Pra mim, o segredo é: como vencer o demônio da gula? Você pode tentar acabar com a gula ou pode tentar conviver com ela. O primeiro método eu tentei e falhei, estou então tentando o segundo.

Funciona essa história de cozinhar tudo “from scratch”? Possivelmente sim, então tcheu ir lá pedir demissão pra passar os dias planejando cardápios e cozinhando. Vão repetir que a Adriana é gorda que quer tudo fácil, de mão beijada, mas legalmente eu tenho que estar na empresa 9 horas por dia, moralmente 10 ( meus funcionários ficam ), chego 8:30 e saio 18:30, tenho que nesse tempinho que me sobra fazer compras, cozinhar, fazer caminhada ( senão sou gorda preguiçosa ), dá um tempo! Normalmente, cozinhar pra mim é comprar um pacote de legumezinho picados e lavados, frango já em cubinhos, cebola fatiada, jogar tudo na Wok com azeite, às vezes um óleo oriental qualquer e pronto. Daí eu ter gostado da idéia do noodles. Quando não é isso, é frango na chapa com salada, também já pronta – faço a gentileza de jogar o molho fora. Chega uma hora você não suporta mais ver sempre as mesmas comidas, sempre os mesmos gostos. E café da manhã, comer uma barrinha do Atkins ou acordar 20 minutos mais cedo pra fazer um omelete? ( Atkins vence sempre ). Tenho que ser realista, tudo que for muito difícil de integrar na minha vida de proletária, vai ser burlado.

Daí eu adorar quando o povo fala de alguma coisa diferente. Miracle noodles é comida “frankenstein”? Ué, é só noodles feito com farinha de cogumelo shiitake, tão frankenstein quanto a panquequinha de farinha de grão de bico que a Paca me ensinou, e na mesma linha que as pizzas feitas com farinha de amêndoas que a Marcia fazia – e ela emagreceu horrores.

E claro, gorda safada que sou, gostaria sim duma pílula mágica. Já imaginaram se chocolate emagrecesse ao invés de engordar? Ha ha ha, eu seria subnutrida. Mas se a vitamina D com sol ajuda, se a fibra aquasoluvel ajuda, é tudo vendido over the counter, nenhum efeito colateral, porque não? Tomei a fibra aquasoluvel hoje ( obesimed ) e tudo bem que meu estômago é minusculo, mas com uma pílula apenas, terminei minha salada me sentindo super satisfeita, será que vou pro inferno, só porque por duas horas eu não senti o estômago roncar?

Uma leitora me mandou um link pra um blog-diário, achei muito interessante. Deu vontade de registrar o dia-a-dia da minha “educação alimentar”, até pra examinar que tipo de pé na jaca eu estou enfiando e se está ligado a algum motivo em particular – vou pensar na idéia.

Enquanto isso, sigamos fofas e alegres. Já me disseram que minha determinação em não desistir de me livrar das banhas é admirável, não desistirei. Se morrer tentando, por favor façam um lipo pós-mortem pra eu caber num terninho 44 da Mexx, velório caixão aberto pra todo mundo admirar, depois, crematório e as cinzas jogadas na lagoa do Epcot, mas essa parte as comadres já sabem. 

segunda-feira, outubro 1

Se reeducar pra que? Sou educadinha pacas.

Povo, muito obrigada pelos comentários no post anterior. Amei a dica do miracle noodles, nunca tinha ouvido falar, daí googuei onde comprar aqui na Holanda e achei um site especializado em dieta com muitos produtos, a maioria alemães, para dietas low carbs uma descoberta!

Vou deixar aqui meus dois tostões sobre tudo o que foi falado.

Do pessoal que fala da tal “reeducação alimentar”, pergunto: é reeducação ou adaptação alimentar?

Eu vejo muito gente que foi uma criança magra / normal, um adolescente magro / normal, na idade adulta é uma pessoa normal, mas  por alguma circunstância, mudança de país, mudança de cidade, a perda de um familiar, um relacionamento que não deu certo – acaba engordando, e de repente se vê com 10, 20, 30 quilos a mais. Por um lado acho mais difícil pra essas pessoas “voltar ao normal”, porque elas nunca fizeram dieta, nunca pensaram no que engorda e no que emagrece, tem que começar do zero a identificar onde foi que enfiaram o pé na jaca e como reverter a tragédia. Por outro lado é mais fácil porque essas pessoas não são os “comedores emocionais” que nós, os gordos perenes ( termo da Dr. Alice, adouro ), eles tem uma capacidade muito maior em divergir o pensamento da comilança, normalmente gostam de fazer esportes ( não conheço muitos gordos perenes que gostem ). Estão se reeducando? Não, estão adaptando sua alimentação a uma nova situação ou “voltando ao normal”.

Tem ainda o gordinho idoso. O cara foi magro a vida inteira, virou os 30 e começa a ficar mais difícil ( até a Adriane Galisteu disse que depois dos trinta tem que comer a metade e exercitar o dobro do que fazia antes, e acabou aceitando conviver com 9 quilos a mais, bem vistos na playboy ). Muitos só acordam quando estão bolotinha, com 20, 30 kg a mais. Vão se reeducar? Não, é adaptar mesmo, ao fato de que nunca mais poderão cometer as loucuras dos 20 anos – cada amendoim a mais comido é uma celulite a mais nas coxas.

A Paca falou da tal “dieta-não-dieta”, minha mais humilde opinião: conversa pra boi dormir! Essa era a proposta da meta ideal, primeiro aprender a que tudo é permitido, e depois aprender a controlar as vontades. O programa começava com 2 semanas do tal coma o que quiser quando tiver fome. Ha ha ha. Vou dizer o que meu corpo quer comer, a fome que ele tem. Meu dia começaria com dois pães de queijos biteludos daqueles de padaria, com um café com leite pra descer bem. As 10, rolaria uma trufinha caseira, ou um brigadeiro-jumbo, ou um alfajor. No almoço, seria arroz-feijão-bife-salada e alguma sobremesa gostosa; às 3 da tarde seria meio pacote de Bono chocolate, no jantar uma massa gostosa qualquer ( ah, a lasanha da minha mãe! ) com sobremesa, claro; e antes de ir dormir – porque eu odeio ir pra cama com a barriga roncando – mais umas bolachinhas, ou um pedaço de bolo, ou algo semelhante. Isso é o que o meu corpo quer, o que minha mente quer. Sei disso porque foi comendo assim, depois de iniciar essa pataquada de “comer o que quiser quando tiver fome” que engordei 40 quilos em um ano.

O povo europeu inteiro não faz dieta… Não, sei, só sei falar aqui da Holanda. Pelo menos aqui, eles são educados com a martelação na cabeça de que lanchinho é uma maçã, que refeição boa é só a noite e tem sempre uma porção de carbo+carne+vegetais. Propagandas na TV sempre mostram o prato ideal com vegetaizinhos. Não existe comida integral? Nossa, aqui todo pão é marrom e cheio de sementes, uns mais “integrais” que outros, mas raros são os que comem pão branco – estão sempre sobrando no mercado. E idem pra massas. Quem vem pra cá passar uns dias, pensa que eles comem a beça e não engordam, afinal, nos fins de semana eles lotam as lojinhas de fritura, e comem aquelas tortas cheias de chantilly ( mas que tem 1/3 do açúcar de qualquer doce brasileiro ), mas acreditem, a maioria vive vicariamente a semana inteira e se permite um pouco a mais de liberdade no fim de semana. O francês acorda e manda ver um croissant? E daí, se no resto do dia ele comer porções comedidas e se mantem nas carnes magras, legumes e verduras? Não há mágica, não há povo que coma tudo o que quer e não engorde. Veja os americanos.

Não acho que eu vá jamais me “reeducar”. Costurei o estômago, e ainda assim tenho dificuldade. Pra mim, escolher a forma de perder ou controlar peso é que nem escolher anticoncepcional, cada um sabe o que melhor se adapta ao seu estilo de vida. Eu vou sempre ter que comer menos do que eu quero. Eu tenho, aos quase 40 anos, que aprender com os holandeses a viver de mato a semana inteira e dar uma liberada no fim de semana. Para manter o peso o sistema que eu escolhi dá certo, low carbs a semana inteira, adição de alguns carbs nos fim de semanas. Só tenho que vigiar porque eu sou do tipo que pensa: já que eu enfiei o pé na jaca com aquele pedaço de bolo, deixa eu terminar a desgraça com um macarrão ao molho branco e amanhã eu começo a dieta, e sempre o amanhã acaba virando segunda feira. Mas eu já estou controlando bem melhor.

O problema agora reside em achar uma forma de emagrecer 10 quilos, porque os low carbs do jeito que eu tô fazendo, adicionando nos fins-de-semana pão low carb, macarrão ou arroz integral, aqui e ali alguma coisa doce, é suficiente só pra manter o peso, não pra perder.

Na sexta-feira, num momento de loucura, fiz a xepa numa loja de produtos naturais e comprei um chá chinês que diz que controla o apetite, comprei um composto com L-Carnitina, que diz que acelera o metabolismo, comprei umas capsulas que tomadas com água expandem no estômago – diminuindo a quantidade de comida ( olha que nome humilhante: Obesimed Forte ). Estou com uma sacolona de saladinhas e outras comidas emagrecedoras dentro da gaveta e jurei que vou andar 1 hora hoje. Vou viver um dia por vez.

Se der tempo essa semana posto uma foto do atual e uma do meu objetivo. Sei que se eu não estiver próximo dele ao virar os 40, vou me sentir o cocô do cavalo do bandido.

Outra solução é uma lobotomia, ou quem sabe, hipnose.