quarta-feira, dezembro 12

De Koh Samui




O voo pra Tailandia foi tudo de bom, viemos de business com uma empresa nova chamada Eva air, muito boa. Nosso hotel, nao all-inclusive porque aqui nao tem, eh lindo, chama-se Sala Samui. Escolhemos esse hotel porque alem de ser todo modernoso como gostamos, dava pra pagar um quarto com piscina privativa. Ate agora, o que eu mais gostei foi da arquitetura tailandesa em si, muitos materiais naturais, muita madeira, muito algodao, muita cordinha, os sofas sao anti-dondocas, baixos e profundos, convidam a um relax  sem sapatos, jogados confortaveis em seus assentos, Jimmy Choo pra que? Um dia irei ter minha varanda tailandesa...

A comida eh uma delicia, mas os cricas sofrem, tudo tem muitas verdurinhas, molhos, castanha de caju e, se vcnao pedir sem, vai morrer... eh tudo bem barato, um pad-thai a 2 euros, um vestidinho de praia a 5... bom, amanha faremos tour cultural pela ilha, se der coloco mais fotos...




sábado, dezembro 8

Aquela época do ano...

E chegou de novo aquela época do ano... em que a gente dá uma banana pras ruas frias da Holanda e vamos pros trópicos, dessa vez, Tailândia.

Por conta do projeto que nunca acaba, esse ano estaremos indo 3 semanas e não 4.

Escolhemos a Tailândia porque queríamos algo diferente, algo em conta, praias lindas. Estou ansiosa, só fui pra Ásia a trabalho, pra Taiwan ( lembram da sopa de galinha preta? ).

Vou tentar postar umas fotos aqui, com certeza postarei no Facebook. Ando pensando, aliás, em fazer uma página do Dri na Holanda no facebook, pra essas viagens principalmente, já que é bem mais fácil carregar fotos no face do que aqui.

Estou dessa vez mais ansiosa pra voltar do que pra ir, e o motivo é simples: na volta pegamos nossa Lila. Sim, o Lila venceu! Ficou empatado com Babi, mas nossa meninucha tem cara de Lila.

Já a "matriculei" no veterinário e ganhei um "pacote de enxoval" - hahahaha - com comida pros primeiros dias, brinquedinhos, um livro. Gosto muito da Royal Canin, sempre dou minha preferência a eles ( o Taaitaai discordou, só se adaptou com outra marca de comida renal ). Plato está no hotelzinho, pela primeira vez sozinho. Fizemos o último check-up nele e o vet ficou feliz em dizer que, apesar da comida diet, nosso gordinho não emagreceu mais, até ganhou 20 gramas. Isso é sinal que ele está se recuperando da depressão de perder o irmãozinho.

Quem não se recupera é a gente, ainda sentimos muita falta, ainda lembramos muito. Estamos agora na fase de tentar lembrar das malandragens, das fofices, se apegar em tudo de bom que passamos com nosso gatucho.

Puevo, rumbora pro avião, mala lotada, como sempre, eu continuo com a odiosa mania de ir colocando as últimas coisas esquecidas all over na mala, o que resulta em que chegando ao destino, eu quero me jogar da ponte da freguesia do ó.

De lá eu escrevo, promiss, mesmo que seja do tablet e completamente sem acentos.

Fui

sexta-feira, novembro 30

Home sweet home

Quando vivia no Brasil, morávamos em São Bernardo, num bairro bem próximo ao centro e pertinho de uma das saídas da Rod. Anchieta. Sempre que eu viajava por periodos longos, a “ficha” caía de que eu estava em casa quando o carro entrava na Anchieta, passava pelo Carrefour e pelo Colégio Regina Mundi, dalí tem-se uma vista da retona da Anchieta que entra em São Bernardo. Ah, estou em casa. Até hoje, passados quase 10 anos, se eu fechar os olhos, me transporto pra esse lugar, sei cada curva do caminho. Na primeira vez que voltei, dirigindo pelo centro de São Bernardo e repetindo o caminho para São Paulo, que tantas vezes fiz, novamente essa sensação de estar em casa, o deslumbre com o cérebro que relembrou as quebradas pelo Jardim Saúde. Essa sensação vai diminuindo a cada vez que volto. A cada vez, mais carros, mais gente, mais grafitti. Os olhos estranham tantos outdoors, fios elétricos, árvores mal podadas, lixo. Os olhos também observam que não há mais criança nos semáforos, aliás – são poucos os semáforos com vendedor de balinhas hoje em dia, aqueles que penduram as balas no espelho com um bilhetinho macambúzeo e quando o farol abre saem correndo pra pegar as balinha ou o dinheiro. Nunca mais vi cachorro de rua, e na Marechal em São Bernardo, não tem mais os tios pipoqueiros ou os tios vendedores de coquinho. Tá tudo muito diferente. E tá tudo ainda tão igual!

Nas duas últimas vezes que fui ao Brasil, já no finzinho, estava já naquele banzo ( odeio essa palavra ), mas era pela Holanda! No fim eu estava sentindo falta do meu pão de fatias do AH, de andar no centro de Eindhoven, do meu cinema Pathé e o cheiro do restaurante ao lado, das latinhas de sopa deliciosas que eu tanto amo Outro dia num workshop tinha uma foto aérea do centro de Eindhoven, e me deu aquele calorzinho bom de familiaridade, essa é agora minha casa! Vocês já sentiram isso?

Desde que eu mudei pra Holanda eu digo que quando eu me aposentar, quero fazer o que muitos Norte Europeus fazem: mudar pra Espanha. Estaria ainda morando num lugar seguro, mas mais quentinho, de preferência perto de uma praia, quem sabe na Espanha a família brasileira me visitaria mais, a língua eu já falo, a comida eu amo… mas será que quando o dia chegar, eu vou querer deixar a Holanda?

Outro dia uma das comadres me disse: eu falo holandês, não me sinto diferente de holandês nenhum, sou como eles. Eu não me sinto holandesa e jamais vou me sentir, apesar de agora já funcionar, fora ou dentro do trabalho, em holandês, tem sempre aquela piadinha que você não entende, ou aquela referência que você não capta, uma mania coletiva que você não tem. Mas hoje, diferente do começo, acho meus colegas holandeses extremamente generosos em me aceitar como o fazem, com graça, com paciência, com curiosidade pela minha “brasileirice” mas vejam, eu moro em Brabant, a Bahia da Holanda, onde tudo é mais relax, onde o povo é caipira e simpático, onde se tem o “brabantse quartierje” ( quinze minutos de atraso antes de qualquer reunião – ou seja, a neurose pelas horas marcadas é menor ).

A cada dia que passa eu crio mais raízes por aqui, e infelizmente, menos no Brasil. Ultimamente ando pensando muito na velhice, a nossa será bem solitária. Se eu me for antes, o marido se transformará num ermitão, e será feliz assim; se ele se for antes, terei uma velhice bem triste. Porque eu não sei viver completamente isolada, vou sentir falta de pessoas. Se voltar para o Brasil, vai chegar aquele momento crucial em que vou precisar de cuidados especiais e não terei ninguém pra ajudar. Por outro lado, o cuidado de velhinhos aqui na Holanda é ótimo, tudo bem que vão embolsar 70% da minha aposentadoria, mas estando no bico do corvo, vou precisar de dinheiro pra que? – mas estarei bem sozinha, se tiver sorte vou ser visitada pela Alice também velhinha ( ela prometeu! ) e pelos voluntários.

A sheicho-no-ie diz que tudo é projeção da mente. Vou projetar então que vou viver feliz e saudável numa cidadezinha espanhola simpática perto de uma praia bonita, vou ficar velhinha com muita saúde e lucidez, e quando a hora chegar, terei um aneurisma fatal que me levará em 2 segundos.

Ai, que papo light pra uma sexta-feira, né não? Bom fim de semana, pessoal!

terça-feira, novembro 27

saudade

Hoje, por algum motivo, me deu uma saudade imensa do meu TaaiTaai.

Ontem falei com uma prima no Brasil que perdeu o cachorrinho dela em março, ele morreu de causas naturais aos 15 anos de idade. A família tem sofrido bastante, e assim como eu farei em breve, adotaram mais um bichinho. O problema é que ela e o marido estão tendo problemas em aceitar o cãozinho, tão diferente do anterior. Nós em casa já adoramos a nossa gatucha, enxoval da bichinha tá quase pronto.

Sabem, eu sou infinitamente grata aos dias que eu tive com o TaaiTaai. Ele foi um gatinho muito amado, muito querido. Eu tive o privilégio de ajudá-lo quando ele ficou doente, tive a felicidade de vê-lo ficar melhor, aprendi que “it is not over until it is over”. Até na morte dele ele está me ensinando. Me ensinando que não importa a gente querer segurar, querer ter de volta, querer mudar o imutável, na morte não se dá um jeito, não há dinheiro que evite, não há reza que ajude. E um potinho de cinzas, é só um potinho de cinzas. Que uma lápide é só uma lápide, onde se vai para resgatar memórias, e memórias a gente a gente mantém conosco, sempre.

Não consigo imaginar a dor de quem perde um filho. Não consigo.

 

segunda-feira, novembro 26

Post de gente louca, começa com lá e termina com crá, de Kipling a Jaburu

Estou embarcando meus presentes de Natal pro Brasil, se tudo der certo, essa semana. E olhando os presentes que estou mandando, penso que droga é esse de país onde todo mundo tem que ser magro e gostar de roupinha de modinha

Minha mãe me pediu já tempos uma calça jeans, e pediu também uma pra minha tia, ambas são razoavelmente magras, o problema delas com as calças brasileiras é a cintura baixa, que convenhamos, não combina com uma senhora de 65 anos ( e minha tia também já passou dos 60 ). Achei que tivesse lojas de roupas "para senhoras", mas pelo menos minha mãe não conhece nenhuma.

Outro campeão de pedidos são os meus tankinis, juro que vou começar a exportar. Sempre usei, sempre tem alguém em resort que me pergunta "se mandei fazer", ou onde comprei. Há algum tempo dei um para a minha cunhada, ela amou. Emprestou pra minha mãe, agora minha mãe quer um também, e a vizinha – mãe e filha – disseram que quando eu voltar, gostariam de encomendar a "muamba biquinística". Acho que no geral, deve ter um nicho para esse modelo no mercado brasileiro, mas claro que ninguém vai investir em biquini de gordo ou velho, gordo tem que emagrecer e velho tem que se esconder.

Minha tia gordota, coitada, tem a maior dificuldade de achar lingerie. Aqui, pasmem, achei lindinhas de malha com rendinha na C&A. E baratas. No Brasil, só naquelas lojas de gordo especializadas, e gente, são uma fortuna.

O resto dos presentes são na maioria coisas que tem preço normal aqui e no Brasil são um assalto a mão armada. Esse ano colecionei barganhas ao longo do ano e estou mandando presentes ótimos com preços inacreditáveis. Para o sobrinho, Nike de couro, cano alto, modelo basquete, por €39. Para a sobrinha, calça da Tommy Hilfiger por €37 ( a sobrinha usa tamanho 27, gente, que tiquitinho de calça, devem usar duas tirinhas de 30 cm de pano pra fazer a calça ). Sem falar que na última liquidação lambança abiscoitei uma Kipling grandinha por €29, e camisetas Tommy Hilfiger pro sobrinho a €15.

A grandessíssima comida de bola que dei foi me empolgar ao ver um livro de arte para a prima querida artista, e antes de encomendar não notei que o bendito pesa 5kg! A remessa pro BR vai custar €58 L

Tudo será acomodado em 3 caixas diferentes, o que custará um montão, mas maiores são as chances de minhas muambas não serem pegas pela alfândega.

E mudando de pato pra ganso. A secretária aqui do departamento disse que vai pedir pro Sinterklaas ( o povo aqui não pede pro papai noel, pede pra Sint ) um namorado, porque ela fez 30 anos esse ano e ainda está sozinha.

Essa secretária é muito boazinha, todo mundo gosta muito dela. Ela é prestativa, é legal, é engraçada, ela só não é bonita. É baixinha, apesar de ser rata de academia não tem um corpo fantástico ( é aquela magra remediada sem peito, sem bunda ), só compra roupas boas na Esprit mas não sabe combiná-las muito bem.

Há 3 meses recebemos a notícia que teríamos um expat mexicano trabalhando no nosso grupo, vimos o CV, e ele é solteiro. Logo começamos fazer planos pra secretária e o mexicano, demos muita risada. Esperávamos um mexicano dark and handsome, e eis que chega um mexicaninho baixinho e loiro de olhos azuis, a secretária só faltou chorar de decepção. Acontece que o mexicaninho é gente finíssima, juro que "ficou" até bonito, mas quem diz que a secretária quer ir tomar um café com ele?

E é aí que eu digo, aquele que conhece a capacidade de areia que tem seu caminhãozinho, não anda de caçamba vazia. Eu pessoalmente acho que o carinha em questão não é feio, e tem muitas outras qualidades mais importantes in my book – do que a morenice e o 1,80mt, mas a colega secretária ainda não cansou de esperar o príncipe, fazer o que?

Outro dia conversei via FB com uma amiga das antigas, que tem a minha idade e tá bem bonitona, razoavelmente magra, cabelão, conservadésima. Ao elogiá-la, ela me disse: Adriana, tive que me conservar porque casei tarde, fiquei muito tempo no mercado. Esse "no mercado" me chocou, e ela me explicou pragmática: infelizmente, pra sentar e conversar com um rapaz, você tem primeiro que passar pela concorrência que é baseada nas aparências, então o negócio é tentar controlar as banhinhas, deixar o cabelón crescer, andar arrumadinha e maquiadinha, baixar um pouco as expectativas. Essa colega era como a secretária daqui, tinha expectativas altíssimas, ficou sozinha até os 37 anos, e pelo menos fisicamente, o marido não é nenhum Brad Pitt.

Blé, que papo, agradeço todos os dias eu "não estar no mercado", porque acho esse lance de paquerar, namorar, sair pra gandaiar, ruim demais. Blé blé blé, sei, que papo de baranga Adriana, mas não é só o negócio de ter que ficar bonitinha não, mas é tanto homem jaburu por aí… Putz, eu já saí, fiquei, namorei, com tanto jaburu – e muito jaburu bonito, manja o cara que é bonitinho mas ordinário?

quinta-feira, novembro 22

Nossa fofinha

Nossa ainda sem nome fofinha

Aqui com 8 semanas, no dia que a visitamos

 Aqui em baixo com 4 semanas, a da esquerda com a irmã e o irmão
 Sorrindo ( not ) para a camera. Será que ela vai ser rabugentinha que nem o Ty?
 Aqui a da direita, menorzinha que o irmão.
Nome ainda indecidido. Eu gosto de: Lila, Julie, Bela, Amber, Nikki, Lilly... O marido quer ficar no medonho Nora, a gata má do Mr. Filtch :(

segunda-feira, novembro 19

Quando chegar a hora

Aqui na Holanda a eutanásia em humanos – é permitida.

Nunca havia pensado no assunto até mudar pra cá, e pra ser sincera, até meu marido perguntar: o que você quer? Nós dois queremos ser mantidos com suporte até o fim, até não haver 0.0001% de chance de recuperação. Sempre acreditei que se há 0.001% de chance de recuperação, 1 em 1000 terá uma cura milagrosa, e quem diz que não pode ser eu?

Há pouco fui colocada na posição de decidir, não por um humano, mas pelo meu gato. De todo o processo, acho que essa foi a parte mais traumática.

Os exames mostravam que o rim dele não funcionava mais, nadica, nem um resquiciozinho, ou seja, ele estava se envenenando, mas até aquele momento, apesar de ter perdido muito peso, de estar lerdinho e apático, os olhinhos remelentinhos, ele ainda estava andando, estava bebendo água, indo ao banheirinho sozinho, ele dormia no tapetinho do quartinho de computador, do meu lado, ele ronronava quando eu o acariciava… como colocá-lo pra dormir?

Na minha cabeça eu pensava muito naquele livro Vidas Secas ( ódio mortal desse livro ), onde a cachorra Baleia pega raiva, o dono a mata, e o livro conta o fato sob a perspectiva da cachorra. Eu pensava, será que ele entende que eu estou tentando poupá-lo de dor e sofrimento? Será que ele já percebeu que o fim chegou?

Na dúvida, o trouxemos pra casa. O veterinário nos preparou para que não levaria uma semana, marcamos para dali a 2 dias, é terrível trazer o animalzinho pra casa sem esperança nenhuma, não tinha nenhum remedinho, nenhuma comidinha, nada que nos desse qualquer esperança.

Na manhã seguinte, minha filosofia do “manter até o fim” mudou em 10 segundos: Ty estava praticamente sem abrir os olhos, não conseguia mais engolir saliva, então estava todo babado até o peitinho, a saliva estava misturada com um pouco de comida que ele ingeriu na noite anterior, e o golpe final: enquanto eu me despedia dele ( eu já tinha percebido que era o fim ), ele tentou ir ao banheirinho e não conseguiu, fez xixi no chão. A cena foi toda muito traumática, eu sabia que era mesmo o fim, eu sabia que se antes ele estava só com um “mal estar”, agora ele estava mesmo com dor.

Aquilo foi o que eu precisei para tomar a decisão. Fomos pro vet, ele estava tão malzinho que dormiu na caixinha de transporte dentro do carro, quem tem gatos sabe que isso NUNCA acontece. Chegando no vet, ele acordou e deu dois miadões, e cortou meu coração, eu preferia que ele já tivesse inconsciente, que não visse que ele não estava dormindo coisa nenhuma, ele estava é indo morrer.

A veterinária foi muito sensível, não o examinou, era visível o estado dele. Nós acariciamos, beijamos, ele tomou a injeção pra dormir, nós continuamos acariciando até ele se enrolar e dormir. A veterinária então o esticou, mediu os batimentos, a gente viu que ele foi respirando mais devagar. O mais impressionante, e eu gostaria de ter sido preparada para isso, é que o gato fica com os olhos abertos, é estranho. Beijamos, dissemos adeus, e saímos da sala. Ele tomou então a segunda injeção.

Nunca saberei se ele, um gatinho, entendeu que esgotamos todas as possibilidades de prolongarmos a vida dele. Agora pergunto: e quando chegar a vez do marido, se é que ele vai antes de mim?

Será que conseguirei vê-lo sofrer e manter nosso acordo de “não desligar as máquinas”?

Aqui a maioria das pessoas é cremada, fui na minha primeira cremação faz um mês mais ou menos. Foi a sogra de um funcionário meu. Ela foi diagnosticada com câncer de pulmão, intratável, foi pra uma casa de “repouso assistido”, foi definhando até chegar a 32 kg para 1,62 de altura, no fim estava pouquíssima parte do tempo consciente, e quando estava consciente estava gemendo e gritando de dores, a família decidiu então pela eutanásia. Acho uma decisão acertada, mas hoje, tendo passado pela experiência com o Ty, sei que ficaria: mas e se ele ainda tiver uma horinha de lucidez sem dor, tenho o direito de roubá-lo dessa hora?

Outra coisa que eu acho fundamental é ter certeza que se tratou o paciente de todas as formas conhecidas. Ty teve comida especial, vários remédios, e mesmo assim, lendo sites dos loucos americanos que chegam até a fazer transplante, eu já tive que pegar o último exame dele várias vezes pra me lembrar que não haveria acupuntura, floral, comidinha  caseira que o salvasse do rim que resolveu parar. A pergunta: teria sido diferente se …? – se forma na cabeça, mas imediatamente eu relembro do exame e de tudo o que fizemos.

Sei que o papo tá pesado, mas a vida continua… Sexta levamos um susto com o Plato, ele já tinha emagrecido um pouquinho no ano passado ( 400 gr em 1 ano, de 9.6 kg pra 9.1 kg ), na quinta peguei o Plato no colo, o achei mais leve, pesei: 8,5 kg! Sexta liguei pro vet pra perguntar se é da nova comida diet, não podia ser, então fomos pra lá com ele. E passamos por tudo de novo, exame físico e exame de sangue. Espera agoniante. Os exames estão normais, só indicam que o Plato está envelhecendo, a creatinina um pouquinho alta, mas ainda dentro do normal. Eu odeio não achar a causa do emagrecimento, mas o vet diz que o provável é que foi o estress de perceber o irmão doente e depois a depressão. Voltarei em 3 semanas para mais um follow up, mas os exames de sangue estão super normais, não há muita razão pra se alarmar.

Mas pelo sim, pelo não, corremos resolver o negócio: reservamos uma irmãzinha pro Plato. Ela é uma british short hair lilac, lindinha, tem 8 semanas, e vem pra nossa casa dia 31 de dezembro. Estamos radiante com a nossa nova filhinha, e ainda que a saudade do Ty não passe e não diminua, temos ainda um gatinho em casa e ele precisa de companhia.

Assim que tiver um tempinho posto uma foto da fofa, que ainda não tem nome. Eu queria Lila ( ou Piper, ou Mimi ), o marido quer manter o horrível Nora que é o nome oficial do passaporte. Podem mandar sugestões, alguma idéia de nomes legais com N ou P?

segunda-feira, novembro 12

E para os que ficam...

Obrigada a todos pelas palavras de apoio.

Estamos ainda bem abalados, mas melhores. Por enquanto o segredo é evitar as fotos, a saudade bate mais forte quando vemos o rostinho rabugentinho, ou as preguicites dele. Ele nos faz muita falta. E também ao Plato. Plato me segue 100% do tempo, e ele era um gato bem independente. Ele ainda procura bastante pelo Taai e quando não o encontra, mia. Mia as 6 da manhã, mia a 1 da manhã, ele mia, minha gente, mia muito. Plato sempre foi o serelepinho que amava ficar no jardim, já caçou passarinhos, rato, até um sapo! Sempre foi uma dificuldade colocá-lo para dentro, quantas vezes tivemos que eu e o Bart persegui-lo pelo quintal, um espanta daqui o outro cata dali… e agora ele só sai se eu ou o Bart estivermos juntos, e no minuto que a gente entra, ele começa a arranhar a porta pra entrar.

Por isso decidimos que adotaremos outro gatinho, de preferência uma menina dessa vez, dois machos brincando de lutinha em casa é o ó ( pêlo pra todos os lados ). Eu pensei em comprar um British short hair ( pra quem mora na Europa, é o gato da marca de comida felina Sheba ), principalmente porque uma das características da raça é que eles são “indoor” – são caseiros, queremos continuar  a criar os gatos em casa e no jardim, sem ir pra rua, mas o marido quer simplesmente adotar um do abrigo de animais. Eu não me importo, vou amar e adorar qualquer gatinho, então – abrigo it is.

Estou muito impressionada com os holandeses no quesito animais. Tem sim muita gente que larga os animais pra ir viajar, que tem filho e manda os animais pro asilo, mas isso acho que tem em qualquer lugar. Mas o que me supreende é que quando eles querem um animalzinho, dão prioridade pro abrigo de animais da cidade. Para gatos, eles tem vários que moram no abrigo, mas a quantidade é surpreendentemente baixa, Eindhoven é a quinta maior cidade da Holanda e eles devem ter uns 30 gatos adultos esperando adoção. Os filhotes, na sua maioria ficam na casa de “famílias de criação”, normalmente são doados ou encontrados pequetitos  e essas famílias criam o gato entre outros animais, com crianças, pra aumentar as chances do gatinho ser adotado. Ando de olho no asilo desde o dia em que o Taai morreu ( quarta-feira ), a maioria dos gatinhos que estavam no site já foram adotados, morro de felicidade quando vejo a fotinho com o símbolo “eu tenho dono”!

Não podemos pegar o gatinho agora, em 3 semanas vamos pra Tailândia. Por outro lado, vai ser dificílimo pro Plato dessa vez, ele sempre dividiu a “suíte” dele com o Taai, aliás, ainda preciso ligar pro hotelzinho pra avisar que o Taai não está mais entre nós, estou sem coragem.

Essa história toda me deu um respeito enorme pelos pais que perdem um filho e conseguem conviver com o fato, mesmo que depois de anos de sofrimento. Sim, é para os nossos gatos que direcionamos o afeto que daríamos ao filho que não temos, mas não sou uma louca, é um gato, imagino quantas vezes maior é a dor de perder um filho.

A literatura Kardecista é incrivelmente pobre no assunto do que acontece com os animais depois da morte física. Uma vez numa palestra ouvi que como não tem nada a resgatar, os animaizinhos reencarnam imediatamente. Espero que sim. A doutora Alice mandou uma meditação para a perda de animais de estimação, e a explicação dizia que o espírito do animalzinho ainda permanece por alguns dias. Eu não sei qual é o correto, só sei que mentalizei muito para que ele esteja bem, para que não fique preso a nós, que venha em alguma outra família que queira muito um gatinho rabugentinho como ele.

Tenho também a dizer que numa hora dessas entendo menos ainda o ateísmo. Acho tão absurdamente ilógica a noção de que a gente nasce, vive e morre, tudo tão sem propósito, tão ilógico mesmo mesmo mesmo. Marido é ateu, mas até ele resmungo que o Taai “está num lugar melhor, sem dor”. E sei lá, pode ser que o ilógico é crer numa vida após a morte que não se vê, não se prova, mas… se a gente vai morrer mesmo e todo mundo voltar a ser cinza, qual o mal em eu me “iludir” que meu gatinho está em um outro plano?

Bom, to be or not to be à parte, vamos sobreviver. E isso já é o bastante por hora.

quarta-feira, novembro 7

O mundo está tão triste

Em fevereiro de 2011, nosso Tyrus - ou Taai Taai, foi diagnosticado como paciente renal grave. O veterinário disse que os índices dele estavam todos no limiar das possibilidades de tratamento, mas como tínhas possibilidades financeiras - e muita vontade - decidimos tratar.

Ele se recuperou bem, o veterinário o chamava de "my miracle cat", mas sempre nos lembrou que ele estava vivendo com 20% dos rins ou menos.

Quando voltamos de Portugal, o Taai Taai ainda estava bem, pesamos, ele tinha emagrecido um pouquinho, mas não nos preocupamos. Nos últimos 5 ou 6 dias ele estava com uma gripe, olhos com secreção e nariz entupidinho, levei pro vet. Dirigindo pra lá, me deu um arrepio de pensar que o primeiro diagnóstico também foi feito assim, ele parecia estar com uma gripe e tinha perdido peso.

O veterinário desconfiou na primeira olhada, limpou os olhinhos, o nariz, pediu o exame, e depois de 20 minutos me disse: vou ser sincero, não podia ser pior. E me explicou, e fez desenhinho, é tudo um borrão na minha memória. Eu já sabia que estávamos tratando com tudo o que havia de recursos, comida especial, remédio em cápsulas, pó na comida, já sabia que se houvesse mais alguma complicação, não haveria tratamento. E foi assim que eu entendi que o médico estava me dizendo que teríamos que colocar meu Taai Taai querido pra dormir.

O pior foi acreditar que o gatinho que na semana passada estava batendo na minha porta cedíssimo por causa da troca do horário de verão, era o mesmo que eu teria que colocar pra dormir, eu só pensava, será que não vou tomar a decisão muito cedo?

O vet disse que ele tinha 1 semana, então decidimos trazê-lo pra casa, ele estava razoavelmente bem, pra nos acostumarmos com a idéia, pra nos despedirmos, pro Plato se despedir. E assim fizemos.

Na mesma noite ele piorou muito, de manhã ele não consegui mais engolir a saliva, estava da boquinha até o peito ensopado, e ao tentar ir no banheirinho, acabou fazendo xixi em si mesmo. Esse foi o último sinal, incontinência - já sabíamos que quando chegava nessa fase, não há mais muito tempo.

Ligamos pro vet, fomos direto pra lá. O método consiste em 2 injeções, uma é um sedativo, a outra pára o coração. Ficamos durante a administração do sedativo, ele dormiu enquanto falávamos com ele e fazíamos a carícia favorita na orelha, ele foi se encolhendo, se enrolando como fazem os gatos, e dormiu. Tivemos ainda uns minutinhos pra beijar, abraçar - ainda sinto o peluchinho macio dele no meu rosto - e nos retiramos da sala.

Tudo é muito horrível, não há consolo, não há alento. E por cima de tudo, você tem que decidir como quer "colocar o Taai Taai pra descansar" - escolhemos cremação e que as cinzas fossem jogadas ao mar.

Não tenho esperança que as lágrimas sequem, não tenho esperança que a dor passe, pelo menos por enquanto. O marido também está um caco como eu. Ele teve que ir pra empresa pra uma reunião, vai voltar em algumas horas pra gente "limpar" a casa: limpar onde o Taai Taai passou mal, jogar as toalhas, cobertores fora, trazer o banheirinho que colocamos no andar de baixo pro lugar original, ou seja, apagar um pouco as lembranças dolorosas e começar a aprender como é ter um gato só em casa. E uma família ainda menor...

Tyrus van den Broek, Taai Taai, 2005 - 2012

segunda-feira, outubro 29

Empregadas "do lar"

No Facebook está rolando um post de um blogueiro paulista, reclamando dos imóveis brasileiros que tem o “quarto da empregada”, e achando ainda pior que o tal modelo esteja sendo aparentemente exportado pra outros países.

Agora pergunto: porque é que ultimamente virou modinha no Brasil criticar o hábito brasileiro de ter empregada doméstica? Com tanta coisa que precisa melhorar no país, será que não estamos perdendo tempo levantando bandeira errada? Porque é que se acha errado ou politicamente incorreto ter-se uma empregada doméstica? Que bonde brasileiro foi que eu perdi? Porque é que se critica tanto quem tenha empregada registrada, com boas condições de trabalho, com salário decente? Vi uma crítica burra à babá da apresentadora Adriana Lima e fiquei chocada com a hipocrisia do brasileiro!

Eu ainda morava no Brasil quando começaram as pressões para os empregadores registrarem as empregadas. Meu pai, que se péla de medo “das autoridades”, mais que rápido registrou a Janilda. Ela teve a carteira registrada pela primeira vez pela gente! Detalhe: já estava beirando os 40, com 3 filhos. Achei tudo muito certo, minha mãe precisava de uma empregada, ofereceu o quanto podia pagar;  a Janilda não tinha qualificação outra, precisava trabalhar, o salário era aceitável, ela firmou conosco um contrato de trabalho. Ela tinha horário fixo, folgas, férias e décimo terceiro. É errado? E se ela tivesse limpando escritório, será que todo mundo seria menos negativo e crítico?

Se eu tiver que levantar alguma bandeira pra ajudar as empregadas domésticas, levanto então a bandeira de que o governo tem que prover ensino básico e ensino profissionalizante para quem não queira passar anos num banco de universidade ( não vou nem aqui tocar no assunto de que tem que dar condições de cursar uma universidade pros que queiram ). Talvez a Janilda tivesse sido uma ótima manicure, ou uma higienista bucal ( a mulher que suga cuspe do lado do dentista ), ou uma jardineira… talvez com algum treino, dentro das possibilidades e aptidões dela, ela tivesse escolhido outra profissão, mas paupérrima, sem nem ter terminado a 4a. série do ensino básico, quais eram as opções dela? Diria eu que, aleluia que está aí a classe média pra ajudar, já que o governo falhou.

Eu não lembro da minha infância sem a Lia. Eu era ainda bebê quando a empregada da vizinha veio perguntar se minha mãe não precisava “de alguém pra ajudar”. A família ( adivinhem? Paupérrima ) não podia sustentar os 11 filhos, assim, quando íam fazendo 14, 15 anos, os pais esperavam que eles fossem “se arranjando”, eram de Assis, queriam que a irmã arrumasse algo pra menor “na Capital”. O arranjo era simples, minha mãe dava um salário, ela morava com a gente. De noite, ela ía pra escola – por exigência do meu pai, os pais dela não queriam. Quando eu era maiorzinha eu lembrava de ir chamar a Lia pra brincar e minha mãe dizer: deixa ela terminar a lição dela. Mais tarde, sentávamos juntas na mesa da cozinha pra fazer lição, mas a Lia já estava “no colegial”. Nossa primeira casa não tinha quarto de empregada, então eu e meu irmão dormíamos juntos e a Lia tinha o terceiro quarto da casa. Ela almoçava e jantava na mesa com a gente, se passeávamos, a Lia passeava. Tínhamos casa na praia, e a Lia sempre ía com a gente, e quando a minha prima da idade da Lia – ía, as duas íam paquerar os moçoilos juntas no parquinho da cidade. Mais tarde veio o Sérgio, o namorado da Lia, ele namorava a Lia no quintal e assistia TV na sala quando o tempo estava frio ou chuvoso.

A Lia terminou o colegial e foi trabalhar numa fábrica de roupas, chorei muito de saudades dela. Ela vinha nos visitar, com o passar do tempo menos e menos, até que perdemos contato.

Tenho certeza que se alguém perguntar hoje pra Lia, e pra tantas outras Lias, o que elas pensam hoje da situação toda, tenho certeza que claro, elas prefeririam ter nascido num país onde qualquer criança tem direito à escola, e os pais recebam ajuda financeira para que os filhos fiquem na escola, ou que os pais nem precisem de ajuda financeira porque tem uma renda famíliar decente; mas que dada a situação, não se sentem menores ou infelizes por terem sido ( ou ainda serem ) empregadas domésticas.

sexta-feira, outubro 26

Shitty airways

Ia falar sobre isso no post de Lisboa, mas acabaram de reservar um vôo aqui pra mim, e deixe-me dividir com vocês nossa última experiência com uma shitty airways.

É muito lindo abrir seu e-mail e ver as promoções das shitty airways ( ou, o eufemismo “low cost airways” ), de repente um mundo de possibilidades se abre com um orçamento ultra pagável. Não me entendam mal, se eu tivesse que escolher entre não viajar e viajar de shitty airways, eu escolheria engolir os sapos e encarar a shitty, mas tendo condições de pagar uns tostões a mais, juro pra você, shitty nunca mais.

Começa que a shitty só é barata se você não levar bagagem, não marcar assento, não comprar embarque prioritário ( na Ryan-meleca-air ). Se você adicionar uma malinha de 15 quilos, marcar assentos, seu preço vai beirar um preço promocional de uma companhia aérea normal. Planejando com antecedência, dá pra pegar uns precinhos ótimos com a KLM. A vantagem das shitty pra mim é somente o aeroporto: podemos voar de Eindhoven, uma corridinha de taxi de 15 minutos e 20 euros de casa.

O primeiro problema das shitty é o povo que viaja nessas tarifas mais baixas. Metade do avião é gente como a gente, que está acostumado a viajar e está tentando economizar uns tostões, mas a outra metade é de gente que raramente entra num avião, que viaja de ônibus ou acampa, não entende as limitações daquela passagem baratésima. Você entra na fila pra deixar sua bagagem e tem sempre gente na sua frente que nem se deu ao trabalho de ler bem as limitações do ticket e ficam ali brigando porque achavam que a mala podia ser despachada sem custo adicional, ou então as vááááárias peruas que não entendem que um volume de bagagem de mão é um volume, e não a malinha de rodinha explodindo e mais uma bolsa LV falsiê gigantesca lotada no limite. Sem falar que parece que tem um código secreto e o povo da bagunça se concentra toda ao fundo do avião ( manja aquele povo que vai no fundo do busão fazendo um pagodinho “do bom”? ), se você não sabe e se senta por lá, vai comer o pão que o diabo amassou com a bunda.

Aliás, e o avião? Que aperto! Nos EUA, antes de entrar na fila de uma montanha russa eles colocam um assento do lado de fora pro povo medir se cabe: deveriam começar a fazer isso com avião! A shitty airways pra Lisboa foi a Transavia, e juro que para caber com algum conforto naquele assento, só quem usa no máximo numero 44. Eu uso 46 e coube roubando um pouquinho o espaço do marido, quem usar acima do 46 já aviso: não cabe! E se você usar a opção de reservar os assentos com espaço extra pras pernas ( opção só na Shitty Transavia ) o negócio é pior, pois os descanços de braço são estáticos e comem 4 cm do já minusculo espaço pra sua bunda. Quanto a altura, o marido tem 1.80mt e coube com os joelhos encostados no banco da frente, mais que isso, só mesmo na fileira com extra espaço pras pernas. Resumindo: se você for alto e gordo, tomara que não seja pobre, senão lascou.

Já havíamos começado nosso boicote à Ryan-meleca-air desde o ano passado, quando o “aeromoço” portuga quis enfiar a mochila do meu marido debaixo do banco da frente dele pra dar lugar a bolsa gigantesca da patricinha peituda que chegou atrasadésima ao embarque, isso depois de termos pago embarque prioritário justamente pra garantir bons lugares e espaço pra mala de mão. E viajamos perto dos pagodeiros do fundão. Never more. Agora decidimos esquecer as shitty air por completo, o aperto da Transavia não compensa a economia de poucos tostões. Teríamos gasto uns 200 euros a mais pra ir de KLM até Lisboa, da próxima vez é o que faremos. Estou pesquisando agora um findizinho em Roma, apesar de ter Ryan-meleca-air de Eindhoven, vou de KLM lá de Amsterdam.

Ah, e só pra não ser tentada, já saí da mala direta de todas as shitty. Nem de graça, mané!

quarta-feira, outubro 24

Jogos Vorazes

Quem é vivo sempre aparece.

Fui pra Portugal ( e não perdi o local ), Lisboa é tudo de bom! Juro que vou postar umas foteeenhas aqui. Recebi o e-mail de uma leitora dizendo que eu sempre viajo mas não dou mais dicas de viagem, pois então, voltarei a dar.

O negócio aqui tá periclitante, são apenas mais 6 semanas antes das férias na Tailândia – tudo explodindo no trabalho.

Mas deixa eu falar de outra coisa. Quem aqui lê o blog da Holandesa ( link aí do lado ), está acompanhando a situação do marido dela a empresa. O meu começou a passar pela mesma situação. Tcheu explicar. É aliás também o motivo de eu não conseguir convencer a gerência a mandar o Old Fart embora.

Se uma empresa quer mandar um funcionário embora, tem que pagar um salário mensal para cada ano que esse funcionário ficou na empresa. Isso em si já é um drama, imaginem que em 2009 eu tive fornecedores aqui pedindo empréstimo para mandar gente embora – não conseguiam mais pagar a folha mas também não tinham grana pra pagar a recisão de tantas pessoas ao mesmo tempo. E tudo é bem controladinho pelo sindicato, a empresa tem que mostrar que está no vermelho, precisa cortar postos de trabalho, e não pode voltar a contratar gente por um periodo X. O sindicato, em parceria com o governo tem tanta força, que criam leis mirabolantes para proteger o funcionário que na verdade não é proteger o funcionário coisíssima nenhuma, é só uma garantia que o empregador não vá colocar o funcionário na rua e esse vai ter que receber o salário desemprego.

Para mandar o funcionário embora e contratar outro no lugar, você tem que provar, muito explicitamente, que o funcionário não está fazendo seu trabalho direito pelo menos por 3 periodos. Para funcionário indireto ( de escritório ), um periodo é 1 ano. Tudo é feito com base na sua avaliação anual, o funcionário que tiver 3 vezes “insuficiente”, pode ser mandado embora por justa causa. O problema é que dar esse insuficiente 3 vezes consecutivas ( ou no espaço de 5 anos ) é praticamente impossível. O funcionário que tem o insuficiente é avaliado pelo RH, vai fazer cursinho, tem ajuda especializada com revisão a cada 3 meses, só se for mesmo um banana de pijama pra não melhorar e receber pelo menos um suficiente no próximo ano. É a categoria onde se encaixa o Old Fart. Ele teve uma avaliação “goed” ( bom ) e uma voldoende ( suficiente ). Com essa “suficiente” o RH já entrou em ação, já está mandando a gente escolher um treinamento pra ele, etc e tals.

A divisão da Philips onde o marido trabalhava foi vendida para investidores. Ter a empresa comprada por um fundo de investidores é a pior praga pro funcionário, benefícios são cortados, a pressão por lucro é incessante, a preocupação com a função social da empresa é zero. Nesses 4 anos que a empresa foi vendida, vários benefícios foram cortados, criaram um tal de “salário bonus” que ainda está sendo julgado se é legal ou não ( 20% do seu salário é atrelado à obrigação de trabalhar 200 horas por mês, se você fica doente um dia, perde o bônus ). O que salva é que essa empresa do marido na verdade é um pool de engenheiros de software que são “alocados” em outras empresas, então se você é alocado numa empresa legal, pelo menos o ambiente de trabalho é bom.

Por tudo o que eu falei acima, quando a empresa tem que reduzir pessoal e tem tempo pra isso, começa a fazer joguinhos pra “forçar” o funcionário a se mandar por conta própria. O truque mais antigo do livrinho é colocar o funcionário numa função que ele não gosta, fizeram aqui na empresa com uma funcionária que queria trabalhar part-time ( ela deu uma sacaneada de leve com a empresa, santinha não era ). No caso do marido, é mandar fazer cursinhos totalmente fora da linha de trabalho dele, ficar fazendo joguinho psicológico de “você precisa melhorar o desempenho”. O marido hoje decidiu ir ao advogado do sindicato: o cliente onde ele trabalha fez duas avaliações dele com “muito bom”, ele tem toda a papelada assinada, só que a empresa oficial dele, pela segunda vez, na avaliação anual queria colocar um suficiente, e dessa vez ele se recusou a assinar.

Em tempos bicudos de crise, vai ser difícil achar outro emprego, mas a situação está deixando o marido um caco. Vamos ver o que o advogado fala, mas tô cheirando problema se formando no horizonte.

A gente acha que essas leis protecionistas são bom pra nós, os funcionários, mas sei lá se concordo. É bom pensar que a empresa não pode me mandar embora sem mais nem menos, mas por outro lado, cria-se esses joguinhos psicológicos que são o ó. Vamos ver no que vai dar essa história.

quinta-feira, outubro 4

Quero ir comprar batatinhas

Meu primeiro emprego “com carteira registrada” foi na GM, antes disso tinha sido estagiária. Entrar na GM como estagiária foi dificílimo, e ser efetivada – especiamente num ano em que a empresa teve 2 programas de demissão voluntária – foi quase um milagre. Eu tinha um orgulho enorme de trabalhar na empresa, e amava os produtos da empresa. Até hoje, quando entro num carro 100% brasileiro, se não for um GM eu penso – ah, o GM é melhor.

Quem acompanha esse blog a tempos sabe o quão difícil foi encontrar o primeiro emprego. Foi um milagre tão grande quanto entrar na GM. E finalmente mudar pro segundo, perto de casa, e o terceiro e atual, no qual eu fui promovida, e agora “estou” gerente ( um antigo gerente sempre dizia que a pessoa “está” gerente, no dia seguinte pode não mais estar ).

Trabalho numa empresa que faz caminhões chamada DAF, a maioria aqui já sabia, mas voilá, aí está o nome. A empresa está agora abrindo uma planta no Brasil, em Ponta Grossa, é “filha” do grupo PACCAR, que nos EUA fazem os caminhões Peterbilt e Kenworth.

Meu emprego tem muitas coisas positivas: eu conheço automotiva, então é mais fácil; a empresa fica a 1,5 km da minha casa, eu demoro 6 minutos porta-a-porta, sem passar por um semáforo sequer; o salário é muito bom; meus colegas ( com exceção do Old Fart ) são muito legais, e eu gosto bastante do meu chefe direto. O diretorzão é meio louco e coloca uma pressão desumana sobre nós, mas eu gosto dele, ele é direto, é inteligente, tem várias idéias malucas mas “intriguing”.

E o que eu não gosto?

Os sistemas da empresa tem 30 anos, não há SAP em parte alguma, tudo é feito meio que a mão. Tem um carinha no departamento que faz uns databases em Access ( !!! ), de resto, é tudo via arquivinho excel. Nada se comunica com nada, você tem que fazer muito trabalho braçal, contratamos um “back-office” que nos ajuda, mas mesmo assim é infernal o tanto de listas que temos que preencher.

O meu cargo é um cargo novo, então certos “poderes” estão sendo transferidos aos poucos. Deles, o que mais me faz falta é o de poder formar o meu próprio time. Com tempo e paciência, nesses dois anos, eu fui adicionando gente muito boa ao meu time, mas não consigo me livrar do Old Fart. Meu diretor é meio mole, não quer comprar a briga com o RH, e no lado pessoal, ele gosta do cara, e sabe que o cara teria um problemaço financeiro a esposa não trabalha, ele tem 3 filhos adolescentes, tem mais de 50 anos e um  CV que mostra um pinga-pinga de empresa em empresa a cada 3 ou 4 anos ( agora eu entendo porque ); meu trabalho envolve justificar e amenizar escorregadas dos meus funcionários, mas as dele são tantas, e tão idiotas – que não deveriam ter acontecido to begin with e eu já não gosto dele, é difícil colocar o seu na reta por causa de um cara assim. E daí eu me sinto mal, porque eu sou paga pra tratar todos os meus funcionários da mesma forma.

Mas o mais importante, meu sonho profissional, é trabalhar numa empresa que produz algo com o qual eu me identifico mais. Uma das comadres passa o dia criando estratégias mirabolantes para produtinhos legais com Olaz ( Olay ), Maquiagens, sabãozinho em pó, batatinha frita e amendoinzinho, porque eu tenho que ficar discutindo o encapsulamento de um motor? E olha que eu sou especializada no interior do caminhão, bancos, painéis bonitinhos, cortinas, colchão, mas mesmo assim, é tudo de um caminhão.

Fico pensando, como seria acordar e ir pro escritório discutir as estratégias de compras de uma Ikea por exemplo? Ou da Sara Lee? Ou da Google – e poder levar meu cachorro ( que eu ía adotar ) pro trabalho? Minha empresa cortou 100% do budget pra viagens, e eu estou sentindo falta de fazer negócios com gente diferente, ver fábricas diferentes, tava no plano eu ir pra China e India, mas com esses cortes

Sempre quando penso nisso, me sinto culpada, como vários dos leitores já comentaram aqui, tanta gente está desempregada, do que eu estou reclamando? Sem falar na conveniência de trabalhar aqui do ladinho de casa.

Mesmo com uma certa dorzinha na consciência, ando olhando o mercado, e está terrível. Pouquíssimas vagas abertas, sem falar que quando o mercado está devagar assim, sempre sobra mão de obra e os empregadores SEMPRE preferem os holandeses, a não ser que a vaga seja muito especificamente direcionada para o mercado internacional.

Dizem que sonhar é preciso, então continuarei sonhando em trabalhar nessas empresas doidas como a Google, em ir trabalhar sorrindo de orelha a orelha.

quarta-feira, outubro 3

Conversando com a Chinesa

Na semana passada viajei pra uma feira em Hannover ( lindo centro histórico, não esperava! ) com o pessoal do escritório. No carro fomos eu, meu diretor ( o legal ) e a chinesa, carinhosamente aqui apelidada de SongaMonga.

É tanto absurdo que não dá pra acreditar.

Songa estava muito feliz pelo passamento de uma nova lei na China. Como ela é de Shangai, onde existia a lei do 1 filho, os pais só tiveram ela. Por essa nova lei, se ela se casar com um filho único, o casal pode ter 2 filhos! Nas cidades do interior, já havia uma “lei dos dois filhos”, que diz que qualquer casal que tenha uma menina primeiro, poderia ter outro filho. O que acontece muito é que casais que tiveram uma filha, tentam novamente e se o ultrassom mostra que é outra menina, abortam, e vão tentando até vir um menino. A chinesa disse que esse ano houve um “protesto público” quando autorizaram uma mulher a abortar um “feto” de 8 meses (!!!!). Ficamos, o chefe e eu, horrorizados, claro. Mas ela diz, a gente tem que entender esse povo das cidades rurais, não há sistema social na China, então é o filho que sustenta o pai na velhice, a filha se casa e vai para outra família (?) e é o filho homem que vai trabalhar a enxada e cuidar dos pais idosos.

Daí eu perguntei: mas, se os chineses podem abortar, porque tantas meninas jogadas na rua, em orfanatos? Ela disse que é um “outro” problema. Os homens mais ricos, que não tem filho homem com a esposa, acreditam que é a mulher que só “faz filhas” ( oi? Foi só eu que aprendi que é o homem que determina o sexo da criança? ), portanto tentam com uma amante ter um filho. Se nasce um filho homem, eles “compram” os documentos para registrar como filho deles. Mas como assim, compram documentos? Acontece que filhos de mãe solteiras não tem direito a certidão de nascimento, a identidade, a passaporte, a documento nenhum. E sendo indocumentado, não existem, portanto não vão a escolha, não são ninguém! Daí a mulher solteira que teve uma menina jogar o bebê na rua, e todo mundo ver e ninguém fazer nada. Nojento isso! Por outro lado fico pensando em quantas mulheres solteiras engravidam, querem ter seus bebês, mas não ousam, afinal – quem quer uma vida dessas pra própria filha?

Daí a conversa rolou para o tema “casamento”, e eu contei que no nosso grupo, o pessoal mais jovem não necessariamente casa, que aqui na Holanda não é necessário, que o fulano tem 2 filhos e nunca casou, que o ciclano não é casado e a namorada está grávida, que o beltrano também… Ela não se conformava. Mas, porque fazem isso? E os filhos, não vão ser discriminados, vão ter direito a escola, vão conseguir arrumar emprego quando adultos? Se o rapaz realmente ama a moça, porque faz ela passar por tudo isso?

Cheguei a conclusão que o Brasil, sempre colocado na mesma “cesta” que os chineses quando se fala em BRIC, pode ter muitos outros problemas, a violência, a corrupção, ensino publico deficiente, mas é mais humano, um bebê ser jogado na rua ainda nos choca, e ele não ficaria ali 5 segundos sem ser socorrido.

terça-feira, outubro 2

Está tudo na mente, a imagem de uma panelada de brigadeiro de colher também

O que a leitora não quer entender é que nesse conversê todo, só uma coisa é certa e todos hão de concordar, ser gordo é uma merda – não esquecendo que é também muito ruim pra saúde.

O gordo precisa aprender a diferenciar fome de gulodice, precisa aprender quando a fome está saciada. Seriously? E que gordo não sabe? Difícil perceber que aquele segundo pedaço de Sacher Tart foi pura gulodice, ou que naquela festinha, a terceira das 21 coxinhas que ele comeu já tinha saciado a fome dele. Tjonge Jonge.

Pô Adriana, mas gordo quer emagrecer “na moleza”. É que gordo é tudo safado mesmo, vocês não sabem? Querem tudo fácil, não tem força de vontade pra nada… Estou de saco cheio de ser tratada assim a vida inteira, de ir num médico com unha encravada e o cara nem olhar: é porque você precisa perder peso. De ouvir que é muito legal, muito fácil e ecológicamente correto fazer “reeducação alimentar”. Reeducar o que não foi educado? Minha mãe vem de uma família humilde, muitas vezes quis comer um pedaço a mais mas não tinha, ou algo diferente, mas não tinha, quando pôde, mantinha os armários recheados e um bolo gostoso sempre no forno. Meu irmão não comia pra não sujar os dentes, ele tinha horror – já eu, comia minha parte e a dele. Comecei a engordar aos 7, fiquei bolota aos 9, fui ao pediatra aos 10, a um endocrinologista aos 12, ele me colocou nas anfetaminas e só as deixei aos 27.

Pela  lógica, somos indivíduos com diferentes “upbringing”, com diferentes gostos alimentares e metabolismos, temos diferentes cotidianos, diferentes disponibilidades de tempo e dinheiro ( comer menos deveria ser mais barato, mas como é caro! ), como achar que uma só solução se aplica ao coletivo? Adriana tem que se reeducar, tem que comer saladinha picada a mão com limãozinho espremido três vezes apenas pra não contaminar com o óleo da casca do limão; tem que comer iogurte feito em casa, mas olha só, pode até comer manteiga!!!

Pra mim, o segredo é: como vencer o demônio da gula? Você pode tentar acabar com a gula ou pode tentar conviver com ela. O primeiro método eu tentei e falhei, estou então tentando o segundo.

Funciona essa história de cozinhar tudo “from scratch”? Possivelmente sim, então tcheu ir lá pedir demissão pra passar os dias planejando cardápios e cozinhando. Vão repetir que a Adriana é gorda que quer tudo fácil, de mão beijada, mas legalmente eu tenho que estar na empresa 9 horas por dia, moralmente 10 ( meus funcionários ficam ), chego 8:30 e saio 18:30, tenho que nesse tempinho que me sobra fazer compras, cozinhar, fazer caminhada ( senão sou gorda preguiçosa ), dá um tempo! Normalmente, cozinhar pra mim é comprar um pacote de legumezinho picados e lavados, frango já em cubinhos, cebola fatiada, jogar tudo na Wok com azeite, às vezes um óleo oriental qualquer e pronto. Daí eu ter gostado da idéia do noodles. Quando não é isso, é frango na chapa com salada, também já pronta – faço a gentileza de jogar o molho fora. Chega uma hora você não suporta mais ver sempre as mesmas comidas, sempre os mesmos gostos. E café da manhã, comer uma barrinha do Atkins ou acordar 20 minutos mais cedo pra fazer um omelete? ( Atkins vence sempre ). Tenho que ser realista, tudo que for muito difícil de integrar na minha vida de proletária, vai ser burlado.

Daí eu adorar quando o povo fala de alguma coisa diferente. Miracle noodles é comida “frankenstein”? Ué, é só noodles feito com farinha de cogumelo shiitake, tão frankenstein quanto a panquequinha de farinha de grão de bico que a Paca me ensinou, e na mesma linha que as pizzas feitas com farinha de amêndoas que a Marcia fazia – e ela emagreceu horrores.

E claro, gorda safada que sou, gostaria sim duma pílula mágica. Já imaginaram se chocolate emagrecesse ao invés de engordar? Ha ha ha, eu seria subnutrida. Mas se a vitamina D com sol ajuda, se a fibra aquasoluvel ajuda, é tudo vendido over the counter, nenhum efeito colateral, porque não? Tomei a fibra aquasoluvel hoje ( obesimed ) e tudo bem que meu estômago é minusculo, mas com uma pílula apenas, terminei minha salada me sentindo super satisfeita, será que vou pro inferno, só porque por duas horas eu não senti o estômago roncar?

Uma leitora me mandou um link pra um blog-diário, achei muito interessante. Deu vontade de registrar o dia-a-dia da minha “educação alimentar”, até pra examinar que tipo de pé na jaca eu estou enfiando e se está ligado a algum motivo em particular – vou pensar na idéia.

Enquanto isso, sigamos fofas e alegres. Já me disseram que minha determinação em não desistir de me livrar das banhas é admirável, não desistirei. Se morrer tentando, por favor façam um lipo pós-mortem pra eu caber num terninho 44 da Mexx, velório caixão aberto pra todo mundo admirar, depois, crematório e as cinzas jogadas na lagoa do Epcot, mas essa parte as comadres já sabem. 

segunda-feira, outubro 1

Se reeducar pra que? Sou educadinha pacas.

Povo, muito obrigada pelos comentários no post anterior. Amei a dica do miracle noodles, nunca tinha ouvido falar, daí googuei onde comprar aqui na Holanda e achei um site especializado em dieta com muitos produtos, a maioria alemães, para dietas low carbs uma descoberta!

Vou deixar aqui meus dois tostões sobre tudo o que foi falado.

Do pessoal que fala da tal “reeducação alimentar”, pergunto: é reeducação ou adaptação alimentar?

Eu vejo muito gente que foi uma criança magra / normal, um adolescente magro / normal, na idade adulta é uma pessoa normal, mas  por alguma circunstância, mudança de país, mudança de cidade, a perda de um familiar, um relacionamento que não deu certo – acaba engordando, e de repente se vê com 10, 20, 30 quilos a mais. Por um lado acho mais difícil pra essas pessoas “voltar ao normal”, porque elas nunca fizeram dieta, nunca pensaram no que engorda e no que emagrece, tem que começar do zero a identificar onde foi que enfiaram o pé na jaca e como reverter a tragédia. Por outro lado é mais fácil porque essas pessoas não são os “comedores emocionais” que nós, os gordos perenes ( termo da Dr. Alice, adouro ), eles tem uma capacidade muito maior em divergir o pensamento da comilança, normalmente gostam de fazer esportes ( não conheço muitos gordos perenes que gostem ). Estão se reeducando? Não, estão adaptando sua alimentação a uma nova situação ou “voltando ao normal”.

Tem ainda o gordinho idoso. O cara foi magro a vida inteira, virou os 30 e começa a ficar mais difícil ( até a Adriane Galisteu disse que depois dos trinta tem que comer a metade e exercitar o dobro do que fazia antes, e acabou aceitando conviver com 9 quilos a mais, bem vistos na playboy ). Muitos só acordam quando estão bolotinha, com 20, 30 kg a mais. Vão se reeducar? Não, é adaptar mesmo, ao fato de que nunca mais poderão cometer as loucuras dos 20 anos – cada amendoim a mais comido é uma celulite a mais nas coxas.

A Paca falou da tal “dieta-não-dieta”, minha mais humilde opinião: conversa pra boi dormir! Essa era a proposta da meta ideal, primeiro aprender a que tudo é permitido, e depois aprender a controlar as vontades. O programa começava com 2 semanas do tal coma o que quiser quando tiver fome. Ha ha ha. Vou dizer o que meu corpo quer comer, a fome que ele tem. Meu dia começaria com dois pães de queijos biteludos daqueles de padaria, com um café com leite pra descer bem. As 10, rolaria uma trufinha caseira, ou um brigadeiro-jumbo, ou um alfajor. No almoço, seria arroz-feijão-bife-salada e alguma sobremesa gostosa; às 3 da tarde seria meio pacote de Bono chocolate, no jantar uma massa gostosa qualquer ( ah, a lasanha da minha mãe! ) com sobremesa, claro; e antes de ir dormir – porque eu odeio ir pra cama com a barriga roncando – mais umas bolachinhas, ou um pedaço de bolo, ou algo semelhante. Isso é o que o meu corpo quer, o que minha mente quer. Sei disso porque foi comendo assim, depois de iniciar essa pataquada de “comer o que quiser quando tiver fome” que engordei 40 quilos em um ano.

O povo europeu inteiro não faz dieta… Não, sei, só sei falar aqui da Holanda. Pelo menos aqui, eles são educados com a martelação na cabeça de que lanchinho é uma maçã, que refeição boa é só a noite e tem sempre uma porção de carbo+carne+vegetais. Propagandas na TV sempre mostram o prato ideal com vegetaizinhos. Não existe comida integral? Nossa, aqui todo pão é marrom e cheio de sementes, uns mais “integrais” que outros, mas raros são os que comem pão branco – estão sempre sobrando no mercado. E idem pra massas. Quem vem pra cá passar uns dias, pensa que eles comem a beça e não engordam, afinal, nos fins de semana eles lotam as lojinhas de fritura, e comem aquelas tortas cheias de chantilly ( mas que tem 1/3 do açúcar de qualquer doce brasileiro ), mas acreditem, a maioria vive vicariamente a semana inteira e se permite um pouco a mais de liberdade no fim de semana. O francês acorda e manda ver um croissant? E daí, se no resto do dia ele comer porções comedidas e se mantem nas carnes magras, legumes e verduras? Não há mágica, não há povo que coma tudo o que quer e não engorde. Veja os americanos.

Não acho que eu vá jamais me “reeducar”. Costurei o estômago, e ainda assim tenho dificuldade. Pra mim, escolher a forma de perder ou controlar peso é que nem escolher anticoncepcional, cada um sabe o que melhor se adapta ao seu estilo de vida. Eu vou sempre ter que comer menos do que eu quero. Eu tenho, aos quase 40 anos, que aprender com os holandeses a viver de mato a semana inteira e dar uma liberada no fim de semana. Para manter o peso o sistema que eu escolhi dá certo, low carbs a semana inteira, adição de alguns carbs nos fim de semanas. Só tenho que vigiar porque eu sou do tipo que pensa: já que eu enfiei o pé na jaca com aquele pedaço de bolo, deixa eu terminar a desgraça com um macarrão ao molho branco e amanhã eu começo a dieta, e sempre o amanhã acaba virando segunda feira. Mas eu já estou controlando bem melhor.

O problema agora reside em achar uma forma de emagrecer 10 quilos, porque os low carbs do jeito que eu tô fazendo, adicionando nos fins-de-semana pão low carb, macarrão ou arroz integral, aqui e ali alguma coisa doce, é suficiente só pra manter o peso, não pra perder.

Na sexta-feira, num momento de loucura, fiz a xepa numa loja de produtos naturais e comprei um chá chinês que diz que controla o apetite, comprei um composto com L-Carnitina, que diz que acelera o metabolismo, comprei umas capsulas que tomadas com água expandem no estômago – diminuindo a quantidade de comida ( olha que nome humilhante: Obesimed Forte ). Estou com uma sacolona de saladinhas e outras comidas emagrecedoras dentro da gaveta e jurei que vou andar 1 hora hoje. Vou viver um dia por vez.

Se der tempo essa semana posto uma foto do atual e uma do meu objetivo. Sei que se eu não estiver próximo dele ao virar os 40, vou me sentir o cocô do cavalo do bandido.

Outra solução é uma lobotomia, ou quem sabe, hipnose.

segunda-feira, setembro 24

Sou fofo, sou fofo!!! "Autoria: Lollo"

Fazer regime é que nem correr: você é 100 mt rasos ou maratonista?

Conheço algumas pessoas que fazem a tal da reeducação alimentar, vão emagrecendo aos poucos. Pra falar a verdade, conheço pouca gente que obteve sucesso assim, mas dizem os médicos ser a forma mais consciente de perder peso e manter o peso perdido… well, perdido!

O mais comum é a gente ver alguém gordo e reencontrar meses depois magro e levar um susto: quantas vezes vocês já não passaram por isso?

Tenho um amigo que, por motivos que desconheço, se propôs a perder 15kg em 15 dias. A argumentação é válida: melhor sofrer intensamente por 15 dias e ter o problema resolvido, do que sofrer moderadamente por 15 meses.

Eu na verdade tenho um problema diferente: eu não tenho força de vontade suficiente pra passar fome 15 meses, se eu começo com a pataquada da reeducação alimentar, em um mês eu desanimo, a escorregadinha vira um pé na jaca, e a vaca vai pro brejo – o peso perdido em 3 meses está de volta em um fim de semana! Não há motivação que ajude.

A ex-consulesa ( lembram-se do codinome do blog da Holandesa? ), já de volta ao Brasil há algum tempo, andou adicionando várias fotos memoráveis no facebook. Ali eu vejo que uma coisa boa e uma ruim, a boa é que eu estou estacionada há uns 6 ou 7 anos, senão mais. A ruim é que estou estacionada no módulo “pança”, ou seja, tô gorda. Daí, concluo que:

1)      Preciso fazer uma dieta para perder vários quilos ( ao menos 10, desejável 15 )

2)      Da mesma forma que estou mantendo, aos trancos e barrancos, desde 2005, continuar mantendo o peso mais baixo pós dieta, o que vai requerer certo esforço, mas é possível

Estou tentando achar no fundo de mim mesma a força necessária pra perder esses 10 quilos, e terá que ser 100mt rasos, porque não conseguirei manter por muito tempo. Tá difícil organizar a agenda, estou indo hoje pra uma feira na Alemanha, rolarão jantares com fornecedores e almoços sanduichinhos. Na volta, teremos nossa apresentação anual pro diretorzão, trabalharei até as 8 todos os dias, não terei tempo de malhar, de cozinhar, e vai rolar muito sanduichinho também. Depois disso vou pra Portugal, e não vou fazer regime, pronto. Vou sim tentar me manter jaqueando só nas refeições, se as andanças compensarem, quem sabe pelo menos não ganho peso.

Então, o que me resta, é fazer meus 100mt rasos do dia 23 de outubro ao dia 7 de dezembro – da volta de Lisboa até a viagem pra Tailândia.

E porque estou escrevendo isso tudo aqui, já que jurei nunca mais falar de regime porque é um papo chato à beça, e todo “regimeiro” é um cara chato, que jura que fazer regime é fantástico, que malhar é formidável e que ele está o maior gostosão da paróquia? Porque se vocês, regimeiros chatos como eu, conhecen apps, programinhas, comidinhas truquentas, ou qualquer outra forma de auxílio na perdeção de banha ( gente, já ouviram falar num programa a base de açaí que jura que é tiro e queda? ), deixem aí sua dica, ou por favor mandem um e-mail. A única coisa que sei ao certo é que farei low carbs, porque preciso de qualquer forma consumir menos carbos por causa do dumping. Qualquer ajuda tá valendo.

Help, amigos fofos!